terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O desbaste.

Coloca-me a cabeçada à força, empurrando o freio para dentro da minha boca.
Basta de doçura, de palavras mansas.
Cheiro-lhe a adrenalina no sangue. Bato os casco no chão de pedra, mostrando-lhe, o meu brio, o meu descontentamento.
Agarra as rédeas e puxa-me para fora, para o picadeiro de areia castanha, vedado com traves de madeira branca.
Agora está de frente para mim, segurando firme as tiras de cabedal.
Tenho os olhos raiados de sangue, a espuma corre livre na minha boca. Prendo-lhe o olhar num claro desafio.
O cavaleiro aumenta a tensão nas rédeas, puxo contra mim o seu corpo, é leve e frágil.
Empurro o freio com a língua, mastigo o metal frio tento apanha-lo entre os dentes.
Preparo os meus músculos para a batalha à minha frente.
Ele olha-me, desvia-se do meu olhar e dança junto ao meu ventre.
Todo o meu corpo se retesa quando sinto o seu peso sobre mim, fico hirto, tenho medo.
Ele crava as esporas nos meus flancos, urro de dor, pino para a frente mas não ando. As esporas picam de novo a zona já ferida, revolto-me, sacudo-me, empino-me, do saltos sem jeito.
Ele saca da chibata guardada na bota, acerta-me nas coxas, magoa-me a carne, desfere outro golpe junto do meu peito.
Mais um grito de dor sai pela minha boca já ferida pelo constante esgaçar do freio em brasa, arqueio as costas, num espasmo escoceio o ar, a batalha segue em frente. Injustamente colocado o cabresto, mas não cedo, mantenho-me na luta, vou em frente.
Puxa-me o freio, de novo tento morde-lo, mas ele salta-me e fere os lábios, engulo o sangue, paro por um momento. Num acto de cego ergo o meu corpo num movimento brutal. Do largas à minha fúria.
Ele cai.
Eu não o piso.
Ele olha-me.
Eu evito-o...

9 comentários:

Abobrinha disse...

Joaninha

O comentário que eu ia fazer é muito pornográfico. Ou seja, a esta hora está aí o menino com olhinhos de gato a escrevê-lo com um ar maroto e a rir-se.

Como hoje já te chateei que chegue (pelo menos até ao próximo post), fica só o Herr Krippmeister a debitar badalhoquices no teu estabelecimento.

Fora o que eu pensei e não escrevo (mas também é bom), o texto está bestial.

António Inglês disse...

Caramba Joaninha, isto não é forma de tratar o animal...
Em tempos fui um apaixonado por cavalos e ainda sou, só que com o meu peso coitado, nem precisava de lhe cravar as esporas para o magoar...
E se fosse há uns tempos atrás ainda pior...
Um abraço
José Gonçalves

Joaninha disse...

Abobrinha,
Acredites ou não foi postar e pensar, isto vai ser um gozo do caraças para a Abobrinha e para o Krippmeister :))).
Mas a realidade é que foi escrito a pensar numa coisa completamente diferente...A minha corrente batalha com o cigarro. Mas sim tem o seu que de erotico tens razão ;)

José,

Tambem é fã de cavalos!! Que bom.
É apenas uma metafora, eu não faço mal a animal nenhum, a menos que tenhas mais de 6 patas!!

Abobrinha disse...

Joaninha

Esquece o tabaco: pensa em MONTAR, filha, MONTAR!!

(se não incluires este comentário eu compreendo)

Krippmeister disse...

Desconfio que não preciso fazer nenhum comentário pornográfico, a Abobrinha está a fazer um belo serviço sozinha.

Está fantástico o texto Joaninha.

Abobrinha disse...

Herr Krippmeister

Desculpa lá, mas não me aguentei: tinha mesmo que mandar a boca!

Agora por amor de Deus (ooops, sorry) vai ao meu estabelecimento abadalhocar aquilo, que está tudo muito sério a discutir o tabaco. Na parte 1 do comentário encontras ainda aplicações interessantes (e absolutamente insuspeitas) para as bananas! Eu ontem estava inspirada!

antonio ganhão disse...

A diferença entre esta égua e certas mulheres que eu conheço, é que elas não hesitariam em pisar o cavaleiro.

A menina tem jeito em se colocar em registos alheios. Isso é muito interessante.

Joaninha disse...

António,

Esta egua é das boas, não faz mal a ninguem ;)

Obrigada.

Tisha disse...

Fantástico! Até fiquei arrepiada... (confesso que também me passou algo mais erótico pela cabeça!)

Parabéns! *