Danço eu agora à sua frente.
Ele ergue-se do chão lentamente.
Apanha a chibata caída, enfia-a na bota, tem as mãos negras, de sangue pisado.
Enfrenta o meu corpo sem medo, aproxima-se falando-me em segredo.
Agarra de novo as rédeas, mas desta vez com mais força.
A luta não acabou.
Ergo a cabeça em movimento altivo, não o quero pisar, mas não o quero comigo. Ele retesa de novo as rédeas e prepara o assalto, eu desvio o corpo com um olhar desconfiado.
Agora a dança é a dois, enquanto ele me agarra as crinas loucas ladeando-me com destreza.
Ele consegue num salto de gato. Fico louca, dou um salto.
A espuma rosa aflora de novo os meus lábios feridos, arranco em solavancos e espasmos, não o quero no meu corpo não quero a meu lado.
Mas ele parece invencível, montado no meu lombo, firmemente agarrado.
Num acto de desespero atiro o corpo de frente, bate na madeira branca...
Cai desamparado.
Olha-me de frente
Não o piso, mas não fico...
Um pequeno fio vermelho escorre-lhe no lábio.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
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8 comentários:
Olá Joaninha
Isto não é forma de uma montada tratar quem a monta...
Esta relação costuma ser pacifica.
Tenho no meu espaço uma dedicatória feita a si. Tem novidade.
Uma boa semana
José Gonçalves
Alguém conhecido?
E para quando um felino, que sabe ronronar?
Gostei, menina dos registos insólitos.
Se fôr um felino grande e envlover chibatada, vai ser um poema curto...
Desde que o cavalo não fique a cantar como o Farinelli, tá-se bem!
Joaninha
A ordem do dia não são cavalos. São burros. Leite de burro.
Abobrinha,
Essa do leite de Burra está-me a dar umas ideias, mas depois explico-te que agora ainda não posso rir :)
Krippahl,
Nunca usaria chibata num gatinho, mesmo que fosse grande como os do jardim zoologico. São demasiado fofos ;)
António,
conhecido?
Não nunca o conheci ;)
eu também nunca usaria uma chibata num gatinho, mas do mesmo modo que nunca usaria uma chibata num crocodilo.
Joaninha
Isto é a resposta a outra coisa que deixaste noutro lado.
Também poucos homens se dedicam tanto e tão inteiramente como uma mulher. Mas que os há, há (são raríssimos) e eu sei reconhecê-los.
Quanto a ser cruel, não consigo (e não quero) sê-lo deliberadamente: já basta as vezes que o sou sem me dar conta. Mas todas as minhas maldades se viram contra mim, e com juros: a minha consciência cobra-as sempre e ainda tenho (muitos) créditos.
Mas olha que há uma diferença entre ser cruel e mandar umas sapatadas. Não é sequer a mesma modalidade, quanto mais a mesma liga.
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