quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O estranho fenómeno do Natal.

Lareiras acesas, de chamas quentes cor de laranja, saltando fagulhas para o soalho de carvalho chamuscado. Pisa brasa. Caruma no cabelo, nas carpetes e farpas de lenha na camisola, cheiro a fumo, carvão preto no nariz.
Rebolar, rebolar nuns estranhos confortos, de tapetes com pó e cozinha de pedra. Fogão a lenha carbonizado e partido pelos milénios de abusos natalícios, de avental ou sem ele, juntando à madeira nódoas de ovo, de farinha, de massas e cheiro a fritos, soltando sonhos, leite creme, arroz doce, bolo rei...Bacalhau nadando bruços no azeite, embrulhado em couve, com batatinha...Meninas pequeninas saltitantes, pulando no chão velho e oscilante, meninos correndo abanando fundações. O tilintar dos copos na cristaleira, os cães dormindo encostados às lareiras.
Cozido, cozido no fogo da sala grande, panelas de peso, de gigante, panelas de prata com o fundo preto, limpo a palha de aço, com carnes borbulhando, enchidos largando cheiro, largando sabor, colorindo a água de sangue. Os gritos da mãe, um pouco agudos, acompanhados ao fundo pelos uivos do vento que se entranha pelas frestas e arestas de uma casa grande e velha.
Maridos com largos sorrisos, olhares de irmã mais velha no meio dos gritos e de risadas nada histéricas.
E no meio, eu, que não gosto de barulho, não gosto de cheiro a fritos, não gosto do cabelo sujo e de roupa velha...Eu que no fundo não gosto de nada disto...Não gosto de cozinhar, sou meia alérgica ao pó, e detesto de morte o frio...Sinto-me tão em casa, sinto-me toda eu, eu mesma. Sinto que amo tudo aquilo, e que tudo aquilo sou eu. E assim é. Nunca entendi este estranho fenómeno do natal. Mas deixa-me, quando tudo se aquieta e as brasas estoiram na lareira num final de festa divino, a pensar seriamente.

- Será que não gosto mesmo de barulho, ou só simplesmente um pouco pateta?

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Sem nome.

Suave...

Vem, suave.

Suavemente te escorram dias aos milhares,

Com caminhos iluminados de felicidade.

Devagar...

Abre os olhos devagar,

Já é dia!

Quente...

Aquece lentamente.

Sejam serões cálidos de Outono dourados,

Com caminhos serenos de cumplicidade.

Devagar...

Fecha os olhos devagar.

Já anoitece!

Caminha...

Vem, firme.

Seja ela uma vida sem magoa,

Com actos de bravura e bem vivida.

Devagar...

Deixa o corpo ir devagar...

Já o fim se principia.

Devagar...

Consome a vida devagar.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

insónia

De eterno se fez finito o céu, quando escorrendo tinta se deitou para dormir. Deixou-o com um amargo de boca.

Para poder ver tentou acender um fósforo, mas este morreu na lixa, chispando num queixume áspero e doloroso.

Não consigo ver...Pensou...

Deitou de novo a cabeça na almofada crocante de erva e geada...Está frio - murmurou.

A noite, como o dia, não é eterna, no fim o sol sempre se ergue, a luz sempre se acende e os meus olhos voltam a ver-te!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Acabei e estou de volta...(mas devagarinho)

E pronto. Acabei o curso.

Espero agora conseguir, munida de tempo e disponibilidade intelectual, trazer o Joaninha de volta ao mundo dos vivos.

Como tal, vou-me debruçar novamente sobre qualquer coisa bela a ver se as minhas ferrugentas mãos, cheias de pedaços de leis colados aos dedos e calos formados de artigos jurídicos, conseguem ainda orquestrar um qualquer ramalhete de palavras.

Voltarei em breve! :)