sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O Escritor.

Sentado em frente da secretária de carvalho pesada, afaga a folha em branco, um folha sem nada. Com os dedos pesados pega na caneta prateada, rola-a nos dedos, sente-lhe as marcas. Ouve ao longe o cantar do seu fado, o ronronar do seu passado, empurrado para os seus ouvidos em brisas suaves ou furibundas, batendo como as ondas do mar nas membranas finas dos seus tímpanos, fazendo-as vibrar. Fecha os olhos, reclina-se na cadeira, deixa as imagens correr, imagens perfeitas. Constrói devagar, coisas vistas, coisas inexistentes, coisas já feitas.
Lá fora o mar ruge, o vento uiva, a terra verde corre, o céu azul desmaia , o universo espera.
Sem os sentidos não era ninguém, ninguém lhe apaga os sentidos. Os momentos vistos, ouvidos, divinamente saboreados quer os doce quer os amargos.
A caneta toca a folha, os seus olhos abrem num rompante, as palavras enrolam-se-lhe nos pulsos, a sua boca forma um sorriso, o seu braço contrai em impulsos fazendo dançar a fina lança de prata, ele serra os dentes e mete a faca. Mais fundo, cada vez mais fundo. A folha sangra em tons de azul.

13 comentários:

antonio ganhão disse...

Toda a (boa) escrita é assim, sangrada directamente da nossa alma.

Mete-lhe a faca, existem muitas folhas em branco por sangrar, estás no bom caminho.

Gostei muito.

Joaninha disse...

Obrigado António, vindo de quem vem é um elogio e peras.

Krippmeister disse...

Ah, a velha amiga explosão inspirativa. Altamente inconstante. Descreveste de forma brilhante essa oscilação do artista entre a falência e a diarreia criativa.

António Inglês disse...

"Fecha os olhos, reclina-se na cadeira, deixa as imagens correr, imagens perfeitas".

Se eu fizesse isto, no mínimo adormecia...
Bom fim de semana
JGonçalves

antonio ganhão disse...

Olha a conjunto C escreveu um texto muito bom, dá lá um salto.

Abobrinha disse...

Joaninha

Eu ia escrever "muito bom", que é só para veres como eu sou influenciável em termos de maneirismos. Já outro dia ia deixando cair um lindo!!!! assim sem mais.

Ora deixando de lado este parágrafo que não interessa a ninguém, o texto está excelente.

E deduz-se que a folha em que escreve este escritor é nobre: tem sangue azul. Ou era da tinta que estavas a falar?

Joaninha disse...

Antonio,

Já li, bom texto sim senhora, da conjunto C.

Krippmeister,

Tu também tens disto?

Abobrinha minha amiga,

Estava a falar da tinta dhaaaaa.

José,

Quantas vezes são os sonhos momentos da mais brilhantes inspiração ;)

Krippmeister disse...

Tenho sim. Não com a escrita, naturalmente, mas com a bonecada :-)

Anónimo disse...

O tempo passa, as memórias ficam e o amor cresce, És maravilhosa, linda, romantica e misteriosa. Uma pessoa incrível, uma mulher fora de série. A minha companheira, na alegria e na tristesa, na saúde e na doença, no dia a dia feliz, ao teu lado, sempre.

Beijinhos do marido, para a joaninha mais linda do mundo.

Joaninha disse...

Ao meu anjo obrigada.

el.sa disse...

"Lá fora o mar ruge, o vento uiva, a terra verde corre, o céu azul desmaia , o universo espera."
Escrita sentida e com sentido!

Beijinhos de parabéns***

Krippmeister disse...

Boa tentativa Migas! Mete uma palavrinha por mim também pra ver se ainda nos safamos com o heliski.

Abobrinha disse...

Baaaaaaaaaaaaah! Que lamechice!