sábado, 25 de janeiro de 2014

Acho que preciso voltar.

Acho que preciso de voltar a escrever.
Qualquer coisa, uma coisa qualquer sobre cenas altamente estimulantes.
Ideias procuram-se. Se alguém as encontrar agradeço envio imediato.
Pode ser na caixa de comentários, telex, fedex, como der mais jeito ou for mais rápido.
Agora a sério, sinto saudades de escrever. 
Não digo que escrever me faz feliz, mas ajuda-me a qualquer coisa. Não sei a quê, mas ajuda. 
O mundo está ou é, ou está e é turbulento e as linhas a preto no papel parece que lhe forçam algum sentido ou ordem, não sei.
Tinha medo do meu próprio vazio e então escrevia-o cá para fora, à bruta. É que assim não era só meu, era nosso, era vosso, era também de quem o lesse.
Mas o mundo é turbulento ou está turbulento, não sei, e no meio dos trambolhões houve um momento tão sinistro, que, o meu vazio se tornou o meu amparo. E então,  guardei-o todo para mim.
Por isso poderia pedir-vos desculpas, mas não peço, ou peço então. Pronto, desculpem.
Não sei se pedir desculpa é necessário, não sei se o meu vazio era assim tão interessante ou tão bonito. No entanto fica o pedido de perdão. Só não perguntem se é sentido, porque não tenho resposta para isso.
O que verdadeiramente sei é que tenho saudade de escrever, consequentemente tenho saudades vossas e de tudo isto. Mas não busquem consistência ou cadência, o tempo urge, urge tanto que os dias já são horas, e os meses já são dias no meu calendário tresloucado. 
Assim sendo, não temos um comeback glorioso, isso de momento glorioso e garboso e charmoso deixo para aqueles mais conhecedores dos mistérios insondáveis da escrita.
Eu volto assim, num simples - Acho que preciso de voltar a escrever. Sobre qualquer coisa, cenas altamente estimulantes. Ideias procuram-se.
De V.Exas sempre.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Tédio

Houve um tempo em que tudo me inspirava. As minhas fontes de inspiração era tudo ou mesmo o nada.

Agora já não. Agora tudo parece ter-se banalizado. Até mesmo o nada, fonte de tanta escrita, se transformou numa simples ausência. Já nem me pergunto de quê, de quem, de que forma o ausente se ausenta deixando nos espaços onde habita apenas vácuo.
Procuro-te.
Tu, coisa, objecto, ser, simples momento. Tu que me farás encostar de novo a caneta ao papel, entusiasmada.
Toda esta banalidade pesa nos ossos.
Grilhões de tédio prendem-me os pés com correntes de “casas dos segredos” e “escândalos políticos, greves, crises, troikas”.
Coisas mundanas, chatas, aborrecidas.
E eu arrasto, arrasto, sem levantar os olhos alto, pois que me envolve o ócio intelectual, numa capa sinistra de obrigação mental, disciplina férrea de pensamentos ordenados, explicativos dos meandros da burocracia, da legalidade, sordidamente misturados com contagem de tostões ao fim do mês, contas a pagar, comida para comer. Guardando horas parcas para um pouco de sono, um pouco de olhos fechados, cérebro desligado, corpo prostrado.
Um, dois, três começa de novo, trânsito infernal, barulhos, sons, urros. E uma avalanche das mesmas banalidades, aborrecidas, digo outra vez, aborrecidas!
Com os neurónios envolvidos por esta gosma, incapaz de um arranque livre, solto. Com o pensamento, formatado, engaiolado, a perder sinapses, aos milhares de milhão por segundo.
Aconchega-me a alma, a certeza da altura em que, em rompantes garbosos, achava escrever manuscritos, contos, poemas.
Maus, bons, razoáveis ou mesmo muito pouco, pelo menos eram meus, manifestações espontâneas da minha existência interior insana, entusiasmante, excêntrica.
Agora as articulações estão calcinadas, o olhar está maculado, não há rompantes, nem ideias brilhantes, nem momentos de puro êxtase literário.
Há sim, papel com 25 linhas contados, trancado em cada parágrafo, sem espaços em brancos, rubricado e assinado, com assinatura reconhecida, documento autenticado.
Mas eu procuro-te.
A ti, coisa, ser, momento, porque eu preciso de, sob pena de uma morte intelectual precoce, sentir que ainda consigo um pouco de loucura, ainda consigo um pouco de liberdade, ainda consigo voos extremos de adrenalina salpicados pela simples visão de um qualquer por do sol bem esgalhado. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Carta aberta ao amigo Pedro.


Caro Pedro,

Obrigada pelas tuas amáveis palavras de conforto nas redes sociais, após o anúncio de mais medidas de austeridade por parte do governo.
Compreendo que TU, como pai, como cidadão, tenhas muita pena das medidas que foram tomadas. Acho aliás legitimo, que como pai e como cidadão, tenhas tomado essas medidas, porque é teu dever, como pai e como cidadão defender o futuro dos TEUS filhos através das defesa dos TEUS interesses, é teu dever como cidadão defender os TEUS amigos e os seus interesses, principalmente quando são coincidentes com os teus. É obviamente através da defesa desses TEUS interesses que garantirás um futuro melhor para TI e para os TEUS.
E sejamos honestos, qual de nós como cidadão não faz exactamente o mesmo?
É essa a função de um pai, de um cidadão, de um amigo.
Por isto caro Pedro, compreendo-te bem.
No entanto caro Pedro, há algo que, na defesa acérrima que fazes legitimamente dos teus interesses, pareces esquecer. É que caro Pedro, tu és pai é certo, és filho é certo, és marido é certo e cidadão claro, mas és também o mais alto representante do governo de Portugal, tu és meu caríssimo Pedro, o Primeiro-Ministro de Portugal.
E é ai, Pedro, que a tua logica de pai e cidadão falha!
Falha, porque ser Primeiro-Ministro caro Pedro, implica que, em primeiro lugar, estão os interesses de todos os pais, todos os filhos, todos os maridos, todos os cidadãos e amigos dos cidadãos deste país! Em primeiro lugar está sempre, o interesse do colectivo caro Pedro.
A isto, a este misterioso fenómeno se chama, sentido de Estado e só com ele se pode ser dignamente Primeiro-Ministro.
Não Pedro, não é como pai, nem como cidadão que se está num lugar como esse. Um lugar como esse, implica sacrifício, sacrifício dos interesses pessoais, como pai, como cidadão, como filho, como amigo, em nome de algo muito maior, em nome de algo que deve ser considerado como sagrado, os interesses maiores de Portugal.
Meu caro, para se ocupar esse lugar é preciso muita coragem, muito sacrifício, muito caracter, muita humildade. Eu nunca tentaria sequer pois confesso, não seria digna de tal posto, não teria a coragem e a humildade que é necessária para renunciar aos meus interesses e dos meus entes queridos em nome de um colectivo que não conheço. Se também sentes não ter coragem, meu caro, não é vergonha nenhuma renunciar, aceitar que nem só de vitórias se faz uma carreira.
Assim, caro Pedro, deixo-te primeiro um pequeno conselho: Até os animais de carga se revoltam quando o castigo é muito. Tem cuidado.
Segundo, faço-te um apelo, não ao cidadão, não ao pai ou ao amigo, mas ao Exmo Senhor Primeiro Ministro de Portugal:
Em nome de um país que tem fome, de famílias que já não tem como viver, de PME’s que estão a fechar, de licenciados desempregados que estão a emigrar, em nome de todos os portugueses, ricos e pobres, de esquerda e de direita, toma as medidas que são necessárias tomar. Aquelas que provavelmente vão contra os teus interesses como cidadão e se calhar até como pai, mas que são do interesse maior de Portugal.
Aquelas que eu sei tens medo de tomar. Mas lembra-te, um verdadeiro Primeiro-Ministro não tem medo, afinal não tem nada a temer, pois tem o apoio do país, dos portugueses, de todo o Portugal.
No entanto Pedro, se sentes que não consegues, mantem a tua dignidade como cidadão, como pai, como amigo, demite-te!

Certa que me compreendes.

Um abraço fraterno,

JCC

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Pai


Dez coisas que aprendi contigo:

1 - Não há pessoas sem defeitos. Todos os temos, sem qualquer excepção.
Há sim pessoas que dão tanto de si, dão tanto à vida, aos outros, ao mundo, pedindo tão pouco de volta, que os seus defeitos se esfumam no meio da sua condição de seres predominantemente virtuosos;

2 - Não há pessoas desprovidas de qualidades. Todos as temos, sem qualquer excepção.
Há sim pessoas, que absorvem tanto, à vida, aos outros, ao mundo, dando tão pouco de volta, que as suas virtudes se esfumam no meio da sua condição de seres predominantemente desvirtuados;

3 - Não se enganem, o equilíbrio entre dar e receber é utópico, não se atingirá nunca. São conceitos abstractos, incontáveis, imedíveis. Não cabem em pratos de balança ou equações matemáticas;

4 - Há que dar tudo, só vivemos se nos dermos num todo à vida, só somos se nos dermos aos outros, só perduramos se nos dermos ao mundo. Há que saber receber, só recebendo da vida, dos outros e do mundo poderemos construir-nos, aprendendo e amadurecendo.

5 – Dar é extraordinariamente gratificante;

6 – Receber é extraordinariamente estimulante;
 
7 – Vive-se melhor de braços abertos e sem medo do medo. Sofre mais quem por medo não vive, do quem vive intensamente consciente do seu medo.

9 – Não existem pessoas invencíveis, todos, mas todos temos fraquezas. O que torna os mais fortes aparentemente invencíveis é o facto de conhecerem e aceitarem as suas fragilidades.

10 – Chorar é apanágio dos fortes.

Por estes de simples ensinamento e por todos os outros que aqui não cabem, estou-te imensamente grata. 

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Mãe


Já escrevi sobre a minha mãe, umas poucas de vezes. Não tão poucas como isso, e ainda assim, não tantas como ela merece.
Não é só por ser bonita que falo nela. É linda, é certo. Sempre o foi, continua sendo e será eternamente. Não é novidade e confirma-se facilmente. Não é por isso, mas por tudo o resto.
É por ser mãe com todas as fibras do seu ser, mesmo contra toda a fibra do seu intelecto, uma negação positiva de maternidade que é o mais acertado contra-senso.
Pela sua capacidade de abnegação materna, num constante abraçar escondido, preocupação continua, camuflada atrás de um ar sempre um pouco “blasé”.
Sempre com as feridas escondidas, com o sofrimento refundido, com o medo trancado na gaveta. Enfrentando, enfrentando-se...
Podia aqui filosofar durante horas, dias, anos, sobre todas as razões pelas quais é ela assunto de que nunca me farto, e sobre o qual nunca digo o suficiente. As razões pelas quais me encho de orgulho e de sentimentos que eu própria não abarco quando a penso mais seriamente. Mas não o faço, por respeito.
Basta dizer que, dificilmente outra criatura faria de forma mais dissimulada e no entanto mais perfeita, o seu papel de mãe extremosa, amorosa, uma coragem de mãe coragem!
Mãe...
Muito obrigada e desculpa-me todas as vezes que não correspondi, todos os sustos que te dei, todas as guerras que provoquei, todas as asneiras...Contrita de forma profunda, humildemente te peço mãe... perdão. Quanto aos que farei no futuro, aqueles que, demorarei anos a reconhecer, sim porque demoro sempre muito, peço-te também que me perdoes desde já. Adivinhando a tua resposta negativa, saio na mesma sorrindo, sabendo ter o perdão no bolso, mesmo se não o tivesse pedido.

Não digo que seja a melhor mãe do mundo, mas digo que, seja lá quem for essa, a minha não fica a dever nada!

Mãe.