segunda-feira, 7 de abril de 2008

Humanidade?

Perguntavam numa serie um dia, a propósito de um homem bom, que depois de assaltado, esmurrado, humilhado e depois de lhe violarem e matarem a noiva rebenta numa raiva assassina, matando de forma cruel e indescritivelmente dura aqueles que lhe roubaram a inocência.
- Será que todos nós somos capazes de nos transformar assim?
Querem mesmo a resposta?
Somos, todos, todos temos a capacidade de esquecer que somos humanos, de renunciar à nossa sanidade, de nos tornarmos animais, todos somos capazes da brutalidade, da crueldade, da inumanidade. No fundo somos todos bestas, bestas amarradas por convenções, por regras sociais, crenças religiosas, e pelo nosso lado mais crente na humanidade que como nós foi amarrada pelas mesmas convenções.
Há aqueles que não têm amarras, há aqueles que não são humanos e para quem a inumanidade é a normalidade.
A questão que ponho é: Mas quem é realmente mais perigoso?
Aquele que nunca teve amarras, ou aquele que as rebenta?

18 comentários:

Abobrinha disse...

Joaninha

Isso parece qualquer coisa como o Kill Bill.

Num outro contexto umas pessoas discutiam se os humanos têm naturalmente inibição de matar (como os cães ou lobos, que fazem todo o ritual de submissão e dominação depois de uma luta com um vencedor, mas não matam o vencido) ou se esse "instinto" é plantado por um processo de sociabilização.

Digo eu que o mais estranho é a capacidade de perdoar ou de pensar com humanidade depois de uma situação desumana. Isso sim, é estranho. Porque não vejo nada de estranho na vingança de uma dor tão profunda. Errado pode ser, mas não é estranho.

joshua disse...

Sinto-me perigosíssimo porque tenho a alma do avesso também. Não acredito na violência nem na crueldade, mas no plano da escrita foge-me ela para esse lado brutamontes e corrosivo.

O que me vale é que ainda consigo condimentá-la com extrema sensibilidade porque foi precisamente por ter visto maltratada e ignorada a minha extrema sensibilidade que rompi com todas as amarras da convencionalite e me defino na mais desabrida autenticidade.

Corro aí muitos riscos. Fundamentalmente o risco de muitos dos meus supostos amigos virtuais, que talvez desejassem confinar-me nas suas classificações zoófilas «o tipo é um bacano e tal» não se tenham apercebido que acima de tudo sou extremamente sensível a tudo, a todas as diferenças, a todas as discriminações, a todos os oportunismos e que me cabe fazer tudo por sobreviver, progredir, porque nada tenho e tenho uma filha para criar e outro a caminho.

Tenho andado ocupado a sobreviver e a criar e a sofrer com garra de Velociraptorsaurus, garras-facalhões naturais por mim usados estritamente para escrever.

Beijo, Joaninha. E garra aguerrida, sempre!

PALAVROSSAVRVS REX

Joaninha disse...

Obrigada meu Amigo REX Joshua.

Já tinha apreendido a tua sensibilidade e por causa dela te invejo a escrita ;)

Dás-lhe com a tua garra reptiliana fenomenal!
E parabens pela filha a caminho ;)

antonio ganhão disse...

Mais importante do que as amarras são os valores. Esses não nos aprisionam e soltam-nos para uma vida verdaeiramente rica.

Joaninha disse...

António pode ser verdade,

MAs como defendes tu os mais fracos, os que estão a mercê da violencia pura e dura prepertada por os tais que não so têm, nunca os tiveram para os quais a inumanidade é a normalidade, sem sem esqueceres os teus valores, sem soltares a besta e deixar que faça aquilo que está destinada a fazer?
Essa é a minha duvida e o meu tomento neste momento, meu amigo.

Krippmeister disse...

Vendo bem as coisas, a violência e a crueldade resultam. Sempre resultaram e sempre resultarão.

A única maneira de defender os mais fracos é torná-los mais fortes.

Abobrinha disse...

Joaninha

Violência gera violência. Ódio gera ódio. A verdadeira humanidade pode ser arranjar modo de parar esses processos sem contudo se destruir.

A opção do Nosso Senhor J. Cristo foi dar a outra face. Claro que ele acabou espetado com uns preguinhos, o que não é grande opção. O Dalai Lama opta por sorrir e chamar a atenção (o que resulta em apagar archites e massacres do povo dele); movimentos cívicos obtiveram grandes resultados através de sit-ins. E também grandes guerras acabaram com grandes injustiças. Mas só quando o retirar foi acompanhado de reconciliação a paz foi conseguida e duradoura.

Não há geralmente uma resposta única, mas um compósito de algumas. Mas a violência pura, e pela vingança não é simplesmente opção. Não demonstra a nossa humanidade.

Anónimo disse...

Neste momento eu também sinto uma raiva surda por injustiças de que fui e sou alvo! A tentação é a de fazer justiça pelas próprias mãos. Mas nunca o conseguiria porque tenho valores nos quais acredito. E nunca conseguiria também porque os poderosos, aqueles tais que não têm amarras, não se compadeceriam mais uma vez. Esses sim, são o verdadeiro perigo a temer!
Os fracos e os humildes muito embora queiram quebrar amarras, não conseguem fugir muitas vezes ao seu jugo. E se alguma vez o fazem, têm uma coisa que se chama consciência, que os não deixará em paz.
Por isso digo que a minha raiva é surda e além disso, muda.
Desejo que ressalte sempre o que de melhor existe em mim!
Beijo

Joaninha disse...

Perla,

Não é os poderosos que eu temo, mas aqueles que não o sendo acham que são. Aqueles que são cegos a verdade, vivem no seu umbigo achando-se donos de tudo. Aqueles que não têm valores nenhuns, e que tem gozo em humilhar e espezinhar aqueles que eles sabem tem esses mesmos valores e como al não irão responder.
Afinal quem é mais perigoso, esse ou a pessoa que tem valores mas que atinge o seu limite?

Anónimo disse...

Amiga,
eu continuo na minha. Se a pessoa tem valores, esses valores prevalecerão.
Se os não tiver, tanto faz ter amarras como não as ter...

Allanah disse...

A pessoa que atinge os seues limites pois perde todo e qualquer controlo sobre os seus actos... A vingança é um prato que se serve frio Joaninha, e alguns servem-se mm congelados... Concordo que na maior parte dos casos a violência não é o caminho, mas já dei por mim várias vezes a pensar que, se alguma vez for necessário, eu, tua irmãzinha mais nova seria capaz de matar mesmo. Em casos especificos como é óbvio, como por exemplo saber que algum pedofilo tocou em alguma criança que me dissesse alguma coisa, até pk o nosso sistema judicial nao os pune suficientemente, alguem tem de o fazer, e eu faria sem remorsos nenhuns. Tambem ja cheguei a conclusão que mandar dar uma tareia a algumas pessoas não me faria confusão nenhuma... dependendo dos casos lá está...
Quem não tem consciencia ou valores, é previsivel, mas quem os tem e os perde.... nunca se sabe quando a bomba vai explodir... e quando explodir... bom, salve-se quem puder...

Abobrinha disse...

Allanah

Lembrei-me de ti no sítio mais improvável: na loja do Cidadão. É que tinha lá uma exposição de fotografias de cãezinhos abandonados que te via perfeitamente a ter feito (ou a fazer ainda melhor). As fotografias captaram a fealdade da situação (a um dos bichos até um olho faltava), mas também a doçura do olhar dos cãezinhos. Espero que te desperte a inspiração. Era para te ter dito isto há muito, mas tenho-me esquecido.

Allanah disse...

Abobrinha
Eu nessas situações o mais normal é antes de conseguir pegar na maquina desatar a chorar, e andar a engendrar maneira de levar algum pa casa e chatear meio mundo para ficar com algum... Ha uns anos tava a tirar um curso de formaçao para jovens empresarios agricolas, e fui gozadissima porque fomos visitar uma exploraçao de ovelhas, e no sitio onde tinham os borregos, tava la um morto, espezinhado pelos outros, e eu tive um ataque de choro... Não sou a melhor pessoa para fotografar essas cenas...

Abobrinha disse...

Allanah

A cena do borrego ainda é naquela: o bicho estava morto. E não foi maltratado, em princípio. E era para comer! Não é o mesmo que ser torturado só porque sim! Não houve uma perda de humanidade de quem tratava com o bicho: ele simplesmente morreu. À cautela eu sou vegetariana.

O que é inteiramente diferente é o e-mail que recebi hoje de uma amiga e que eu NÃO vou passar a ninguém porque é violentíssimo e eu não quero pôr ninguém mal disposto: é sobre maus tratos a animais domésticos na China. Vejo perfeitamente quem mo mandou a chorar por o fazer, porque é uma menina muito sensível. Aí sim ficavas mal, acredita, e dava-te vontade de bater em alguém!

E um outro e-mail que passei um dia destes a alguém mais capaz de fazer um post acerca do assunto (e que também passei à tua irmã, que pelos vistos ficou alterada com o assunto ao ponto de escrever isto).

António Inglês disse...

Boa noite Joaninha

Tantas postagens e eu sem cá vir. Estive em silêncio forçado, durante uns tempos, daí que não tenha visitado ninguém. A vida é assim, uma vez por outra entorta, desarruma-se e primeiro que volte ao lugar leva o seu tempo.
Quanto a esta última, digo-lhe que sim, que somos realmente um animal capaz de fazer coisas que nem pensa ser capaz. Pelo menos, eu afirmo-lhe sem pestanejar que se por qualquer razão, um dia alguém fizer mal aos meus familiares, e esse alguém eu possa apanhar e ter a certeza de que foi ele que cometeu essa fatalidade, pois minha amiga, não responderei por mim. Depois levem-me preso, mas que a minha resposta será pronta, não duvide. E sei que a maioria, faria o mesmo, apesar não o admitir.
Outro assunto. Então temos mais coisas em comum? O seu marido é de Rio Maior? Então se calhar conhecerá a minha família e a aldeia de que falei na minha postagem.
Como isto é tão pequenino, não é verdade?
Deixo-lhe um beijinho
António

Joaninha disse...

António,

Como eu o compreendo....
Vou falar com a minha sogra sobre o seu Pai ela sabe com certeza quem ele é, ela conhece toda a gente por aquelas bandas.

Anónimo disse...

Aqui vai um post entre estes do que vejo serem amigos, espero não destoar mas o assunto è deveras interessante.
Será que o já referido “não te metas com os que gosto se não levas” è realmente perder as amarras ou o falar mais alto das amarras afectivas? Não será isso que nos torna tão humanos? Termos laços tão fortes com outrem que estamos dispostos a encontrar dentro de nós uma “animalidade vingativa” (ou não tão animalesca) para protegermos aqueles de quem gostamos? Toda a gente pode ser mazinha e quem o è gratuitamente muitas vezes è assim não pela falta de amarras e valores mas pela falta de alguém que perca as amarras por eles.
Cumprimentos a todos.

Joaninha disse...

Mamnon,

Seja bem vindo ao Joaninha, são meus amigos e comentadores residentes os de cima, mas são boa gente e acolhem quem por aqui passe, tal como eu, por isso é livre de deixar o seu comentário não destuando de todo, antes pelo contrário!

Talvez tenha razão, mas acho mesmo que há quem não tenha amarras que não conheça limites e que se ache no direito de fazer mal a quem não faz mal nenhum. Nestes casos é dificil mantermo-nos amarrados, e sentimo-nos muito tentados a deixar nem que seja por uns breves e insanos instantes o nosso lado mais reptiliano solto, para fazer aquilo que o nosso lado humano não nos deixa fazer;)