sexta-feira, 16 de maio de 2008

Continua sem nome

Bom, continua sem nome e sem pretenções, mas aceito sugestões.

"Estava um pouco desligado, não se sabia, não se achava, estava perdido, estava embriagado. Deixava que a água do duche lhe escorresse suave pelas costas, ouvindo do lado de fora o acordar das gaivotas, que, em rolado canto, matinavam sobre o céu ainda em branco, batendo em ritmo de antecipação as suas brancas asas, enquanto ele ensaboava em movimentos desconexos os seus músculos côncavos e convexos. Brilhava-lhe já no fundo das orbitas cheias de negro os verdes olhos de Gabriela o vermelho forte do seu cabelo. As gaivotas erguidas na corrente que ascende do rio fétido em frente, alteavam no ar, sempre subindo ao ritmo raios vermelhos do sol recém-nascido. Com os traços solares ainda sangrando do doloroso nascer, mas já deixando que o branco lhe traçasse de prata a pele escura e baça, ele, com o corpo ainda molhado vestiu uma roupa simples e sem graça. O dia seria longo nascendo assim tão lento, é vagaroso o tempo quando não passa. Acordava agora a passarada menos madrugadora, que não fora ver nasce o sol do seio da linha do horizonte protectora, e Miguel caminhando na praça era a figura sonhadora, lavada em graça que despertava os olhos curiosos das mulheres matutinas que agradeciam antes da partida dos seus maridos junto ao cais. Dir-se-ia que as encantava com o seu olhar perdido no meio da imensidão daquela pequena praça, envolto em estranha luz incandescente que tinha algo de profundamente santo e transcendente, estava iluminado pelo amor santificado, amor simples limpo, sem traço de pecado, amor que todos procuramos mas pouco temos achado. Amor de sempre, para sempre, no presente e no passado, um amor soberano, cheio de intensa tensão, repleto de sagrado e profano. Era assim que se erguia o moreno andando em sua própria e gloriosa fantasia que se mostrava tão assustadoramente real a quem o via."

6 comentários:

António Inglês disse...

Bom dia Joaninha

Nem me atrevo a fazer qualquer sugestão. Iria seguramente estragar o que vai nascendo de forma tão bonita.
Um bom fim de semana.
Beijinhos
António

Krippmeister disse...

Caindo no perigo de me repetir, está lindo Joaninha. Raras vezes me vejo na situação de ter que escrever seja o que fôr, não escrever parvoíces no blog, mas qualquer coisa a sério. É nessas situações que aprendo a apreciar quem sabe. Parabéns.

antonio ganhão disse...

Uma intensa paixão pode-se encher de profano e sagrado, pois no irracional os opostos atraem-se, complementam-se e dão cor à vida (a ao texto).

Mas nas nossas actividades diárias, os opostos são gritos no meio de uma frase, que nos ensurdecem, côncavos e convexos, no seu contexto, dobram o discurso para além do estilo.

Contenção e revisão.

joshua disse...

«AlucinoGrafia», eis o título que te sugiro.

Inventei há muitos anos para os desenhos insólitos de um amigo a expressão AlucinoGrama.

bjs

PALAVROSSAVRVS REX

Anónimo disse...

Vou ser desmancha-prazeres.

Adjectivação a mais.

Se a ideia é contar uma história, se para uma ideia de alguém apaixonado acordar são precisas tantas linhas.. teremos um "Guerra e Paz".

Disclaimer - Os meus livros preferidos são os técnicos, da Gradiva...

Joaninha disse...

Osvaldo,

Não és nada desmancha prazeres. A ideia era exagerar, sendo ainda um esboço tem, claro, coisas a mais, mas a ideia era mesmo adjectivar em exagero, não está tudo assim como deves calcular!

António,

Eu sei, eu sei...

Josh

Gosto da ideia até porque como deves ter notado a intenção é mesmo o exagero ;)