Durmo, dormindo não estou acordado para saber que perdi o tempo por mim passado.
Mas o tempo, passando calado, acorda-me de novo e mantêm-me acordado. Corro atrás dele num sprint falhado, não o alcanço e fico cansado.
Ando, andando não estou parado, mas não me canso tanto, não fico esgotado. Seguindo e seguido no mesmo rasto, andam outros ordeiramente atrás de mim, a minha frente e a meu lado, não estou só mas não estou acompanhado,
Continuo em frente, rodeado de gente, gente que anda somente, sem sentido, loucamente. Loucamente sem ter para onde ir, é-lhes indiferente, gente acéfala, sem mente, gente perdida, gente demente.
Revolto-me, viro-me a eles, cravo unhas, mostro dentes. Luto desesperadamente com um desespero demente, contra essa gente doente, acéfala, sem mente, mas sou completamente impotente contra a marcha animal reverente, intransigente, imbecil e deprimente.
Acordo. Acordando fico acordado. Falo, falando não consigo ficar calado. Mas sou o único que fala, todos os outros estão calados. Brotam-me as palavras depressa demais...