segunda-feira, 29 de março de 2010

Saudade by Joaninha

Entranhada no peito, com garras que gentilmente se agarram, qual fardo de palha, que parece não pesa quase nada, mas pesa tanto.

De a carregar tenho já as costas dobradas, sob a carga que me oprime o colo, da falta que sinto de te ver o rosto, de te sentir o cheiro, meu bem.

São milhares, diminutas recordações tuas. São tantas como as palhas que entrelaçadas formam o peso que me pesa, mesmo sabendo que não pesa nada.

A saudade embrulha no bater do coração, no correr do pensamento que incessantemente te busca, te vê constantemente onde já não estás, te sente onde quer que vá.

Verga-me o saudoso vigor dos teus braços, quebra-me o frio da tua ausência, quando perdida nas tuas recordações, em gracioso estado de alma, me recordo da quentura da tua presença, meu bem.

Ficam-se-me os olhos na infinitude do caminho que tomaste, quisera tanto faze-lo contigo, mas não me deixaste...Fiquei, sentindo-te ido da minha presença, injustamente privada da tua beleza...

E não é que não viva, porque vivo com efeito, vivo muito, todos os dias, mas... É que entranhada no meu peito, com garras que gentilmente se alapam no meu coração, qual fardo de palha que não tem peso, mas pesa tanto, a saudade de ti me consome e me acaba. Sinto a tua falta todos os dias, macera-me a alma não te ver no meio da multidão, meu sempre suave bater de coração.

Sabe meu bem que cada vez que pareço perdida na realidade não estou, apenas te imagino, e sabe que se me sinto vazia é porque te não tenho, e se não sou inteira é porque levaste parte de mim na tua algibeira. Meu bem secretamente sabe que te espero, em desespero sentido te espero, vivendo te espero, esperando secretamente ver-te, procurando a rua que subiste quando desapareceste...Busco-te saudosamente.

19 comentários:

antonio ganhão disse...

Porque escrevem as mulheres sempre o mesmo? Merecerá algum homem toda esta busca, em tanto suspiro? Receio bem que não...

Joaninha disse...

António meu caro, parece-me que não fui muito clara, o texto não é dedicado a um qualquer qualquer homem vivo...Huumm pensei que estava claro, enganei-me...

Esta saudade é daqueles que se foram (entenda-se morreram) e não voltam mais, pouco importa se são homens, mulheres, ou o cão ;)

Mas a verdade é que o texto é aquilo que quem o lê entende dele...Vai dai...Se calhar não ficou claro...

As mulheres escrevem sobre aquilo que lhes agita a alma, claramente é diferente daquilo que agita as almas do homens (entenda-se sexo masculino)...

Nos é o amor... homens há que escrevem sobre futebol, é assim mesmo!

Beijos

Caramelo disse...

Mais uma vez adorei o que escreveste,Joaninha!...pensei exactamente numa pessoa que já morreu e que me faz muita falta!
Beijo

alf disse...

humm... comentei no último post da Metódica que as meninas qd crescem perdem a magia, o sentido da eternidade, deixam de ser fadas e princesas e passam a ser só amores e desamores e mães. E lágrimas e suspiros.

Nós, homens, conservamos sempre o nosso lado criança. Pelo menos os sábios...

Não é que o texto não seja literariamente muito interessante e bem conseguido; mas a um homem-criança a saudade não aumenta a adrenalina, ao contrário do futebol.

Joaninha disse...

Alf, estás a querer dizer que a saudade não consome a alma de um homem?

Se é isso discordo...Conheço muitos a quem a saudade (esta, daqueles que não voltam mais) faz grandes estragos e lhes aumenta a adrenalina bem mais que o fotebol.

Fico feliz que aches o texto literariamente be conseguido...:-)

beijos

Krippmeister disse...

Está no ponto. Muito bom. Acho que há várias fases na saudades, desde o desespero até àquela tipo nostalgia. Essa demora pra caraças a chegar...

Quint disse...

Depois da passagem de dois inclementes críticos pela caixa de ressonância, nem me atrevo a dizer algo ... a crítica, já se sabe, costuma ser feroz com os que ousam contrariar a sua sapiência feita de favorecimentos ...

Discordo, contudo, de Vossa Senhoria quando diz que o que inquieta a alma da Mulher é coisa diversa do que apoquenta a alma do Homem ... na essência, no substracto, escavada que seja a alma e limpo que seja o esterco, é a mesma coisa!

Já agora, não esquecer que sendo esta uma época de penitência, deverá Vossa Senhoria, Senhora Doutora, privar-se das deliciosas amêndoas e da suculência do cabrito!
Uma boa páscoa com um abraço e um beijo aqui do colega doutor.

Anónimo disse...

A saudade é, tantas vezes, um peso, um fardo, mas outras... uma doce lembrança!

Boa Páscoa!

Bjins

Joaninha disse...

Caro Dr.

"Discordo, contudo, de Vossa Senhoria quando diz que o que inquieta a alma da Mulher é coisa diversa do que apoquenta a alma do Homem ... na essência, no substracto, escavada que seja a alma e limpo que seja o esterco, é a mesma coisa!"
Não sou eu que o digo, foi o que me foi dado a entender pelos dois criticos que por aqui passaram...Limitei-me a tirar conclusões do que disseram. Aparentemente, as mulheres falam todas das mesmas coisas, coisas essa que pouco importam aos homens. Se não era isso que eles queriam dizer foi o que qu conclui...Corrijam-me..

E carissimo as suas criticas são sempre bem vindas por aqui :-)

beijos

Blondewithaphd disse...

Menina, ai tanta saudade que por aqui vai. Chutá-la e andar é sempre o meu mote. A saudade é boa q.b., caso contrário dói para caramba, e that's all.

alf disse...

Talvez a saudade doa mais aos homens do que às mulheres... talvez seja por isso que eles não falam dela e preferem o futebol... a Blonde tem toda a razão quando diz «chutá-la e andar». E assim, com um chuto, se juntam o futebol e a saudade!

Eu sublimo a saudade em sentimento positivo, procuro equilibrar o lado negro com o lado luminoso, a perda que ela representa é a memória de um ganho; e chorar um ganho que tivemos é coisa tola, não te parece?

Joaninha disse...

Mas Alf e Blonde,

Isto é um exercicio de escrita! É obvio que tenho saudades, de muita gente, daqueles de quem me afastei e dos que "partiram" mas aqui não temos um experiencia pessoal per si, não vivo na saudade, não tenho tempo para isso.

É uma descrição de um sentimento, abstrata não é pessoal!!!

beijos

Quint disse...

Caríssima, de facto essa penitência é digna dum Torquemada; não sei que terá a menina andado a fazer para agora chegada a esta época ter de arrostar com tão pesada cruz!
Enfim, cada um tem o seu Golgotá ... aconselho, mesmo assim, e à laia de bálsamo um livro da Coimbra Editora, do Carlos Fraga e Álvaro Moreira, de seu nome "Direitos Reais" que é todo ele alicerçado nas lições do Professor Mota Pinto. Sucinto, objectivo e preciso ... não sei é se ainda seja produto que por aí ande.
É um bom ponto de partida.

Quanto às mulheres falarem todas das mesmas coisas e essas coisas pouco interessarem aos homens, hum ... isso talvez para aqueloutros com trejeitos marialvas! :)))

alf disse...

joaninha, eu compreendo isso; e sei que se começa a escrever pelos temas afectivamente pesados. Um actor também começa por treinar o choro. E saíste tão bem do exercício que eu até desisti a meio, não dá para ficar indiferente!!!

Mas tb me começa a preocupar a tua insistência nestes temas; precisas de alternar.

E, sobretudo, mostra a minha experiência que nos blogues onde não aparecem uns chatos a contestar, os comentários morrem e desaparecem. Assim, podes contar comigo para manter os teus leitores bem acordados rsrsrs

Eu cá gosto que contestem os meus posts - é sinal que escrevi alguma coisa de diferente, que mexeu com as pessoas. Os «amén» são só manifestações de simpatia, não necessariamente de interesse.

Joaninha disse...

Caro Alf,

Como já tinha explicado, resolvi fazer uma serie de post 3 sobre sentimentos "pesados" e 3 sobre sentimentos "Felizes".
Sentomentos do mais universal possivel, daí a escolha do medo, solidão e Saudade.

Estes sobre a saudades são os ultimos dos temas mais pesadotes...

Seguem uns mais alegres, que espero sirvam para aliviar o peso que aparentemente estes causaram.

A contestação não me incomoda, incomoda-me não conseguir passar a mensagem que pretendia, que foi claramente o que se passou neste caso, com o António.

MAs prometo que depois da ilustração e poema sobre a saudade, passaremos a coisas mais risonhas.

Bjs

miguel alves vieira disse...

Saudade... de amar, o momento, o segundo duradouro que não se apaga, que na lembrança perpétua fica. Ilumina e adoça a vida, é resguardo, é ninho, é felicidade.

Saudade... é ter amado e querer amar outra vez.

Krippmeister disse...

Vieira que poético! Ele é ski, ele é peitinhos de frango com especiarias, e agora também poesia.

Sempre é melhor que snowboard, ovos cozidos e parvoíces diversas...

alf disse...

foi desatenção minha então... desculpai senhora, já se sabe que os ET são cabeças no ar.

Ninja! disse...

Muito bom, de novo. :)

Acho que deves sempre escrever o que te apetece, se o resultado é este.