Tenho folhas de papel aos milhares e centenas de milhar de pensamentos, e no entanto os dois não se tocam, não se escrevem, não formam um corpo coeso. Não consigo que se esparramem no papel imaculado, que tão imaculadamente reflecte a luz branca cega do sol, coberto de nuvens cinza, de um dia tão perfeitamente de primavera.
O dia caminha lá fora, desenrolando-se como se espera, num dia normal, frio mas já mais morno de primavera.
As nuvens abrem buracos que mostram que o céu ainda é azul, não mudou de cor, e que o sol ainda aquece quando de nuvens grossas não padece. O vento sopra ligeiro e as árvores dizem-lhe Adeus com os ramos cobertos de rebentos verdes, prova provada da primavera, mesmo nos dias em que ela se esquece e deixa voltar o inverno frio, ainda assim menos frio do que era.
Então, procuro em entre os interregnos da nublusidade primaveril, um estética coerente para o derrame cerebral iminente das centenas de milhares de pensamentos que me ocorrem a cada momento, no entanto nada...As nuvem mantêm-se nos seus afazeres cobrindo e descobrindo o sol, como roupa vaporosa pelo vento batida, e eu no meio de pensamentos incoerentes vou traçando pequenas linhas nos milhares de folhas brancas.
Risco, rabisco, escrevinho, escrevo, faço notas de rodapé no livro de um determinado pensamento, se não o faço esqueço.
Leio, na horizontal, na vertical, na diagonal, hoje não é dia de criação, é dia olhar para dentro.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
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13 comentários:
Tenho um miminho para ti no meu blog.
Quanto ao apontamento, estou certa que um dia destes temos posts fantásticos para ler. A prová-lo está o de hoje!
Deve ser um livro muito interessante!
Manuel,
Chama-se prosas intimas e de autoconhecimento do Fernando Pessoa. É muito interessante!
Gata,
amanhã trato disso :)
Obrigada
beijos
Se são íntimas se calhar não é pra andares a cuscar nas prosas do homem. Já pensaste nisso?
Pensei que tudo isto era o resultado da leitura do meu último post! Afinal é só por causa do Fernando Pessoa...
Hmmm.... também és daquelas cujo neurónio fervilha e fervilha e não pára um instantinho? Join the gang, girl!:)
Belíssimo apontamento.
A angústia do guarda-redes no momento do pénalti.
Bela prosa.
Às vezes, a questão não é a necessidade de olhar para dentro; são apenas as hormonas a quererem entrar em acção, a gritarem por atenção, a chamarem por um sonho, um desejo, um entusiasmo.
Ah, já me esquecia, o exercício físico é importante - andar a pé!
(Creio que era o Kant que todas as manhãs dava um passeio a pé enquanto pensava)
Bem, para além disto há uma lista interminável de truques para enfrentar o vazio de inspiração... mais uns anitos e poderás publicar um livro sobre isso rsrsrs
Dia de olhar para dentro... é muito bom fazer isso de vez em quando. E um prazer quando se tem coisas bonitas para ver!
Como te compreendo... Tenho passado pelo mesmo!
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