No escuro, bem escuro o fundo do meu peito. Alimentei, deitada no meu leito, um sentido nebuloso ao meu tormento.
Atormentada a cada segundo pelo seu pérfido crescimento, mas incapaz de lhe cortar o destino, pelo menos naquele momento, deixei-o, escurecendo o sentido velado do meu sentimento.
No escuro, deitada no leito, ele cresceu arfante e gigantesco no meu peito, e eu deixei.
No leito, no escuro, eu via, eu sentia?
Tão bem o via e sentia, tão mimosamente o mimava, afagava com um certo carinho e muito medo do seu destino. Por muitas vezes ensandeci, embrulhada na sua ira, nas contracções dolorosas da furia devoradora da minha criação maligna.
Mas que podia eu fazer? Se ele era o meu menino.
O meu menino não é de Oiro, é de ódio feito, alimentado a quinino, mimado a preceito, com muito veneno e carinho!
O meu menino que embalei no peito, o meu menino perfeito, nunca ninguém descobrirá que é feito de pura maldade, que apenas se alimentou de crueldade, que é dessa sua natureza que lhe vem toda a genialidade.
No escuro, bem escuro no fundo do meu peito, alimento de novo um novo sentido escuro ao meu sentimento, dou de novo alento ao meu mais indigno e terrifico tormento.
Um novo menino me cresce no peito, rodopiando em mim aquando no silêncio do meu leito...
quarta-feira, 25 de março de 2009
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21 comentários:
belíssima criação.
THe devil's child!! Yeeeeeeeees! Estás aqui, estás a escrever argumentos de filmes para o Fantas!
Assustador, Joaninha. Não viste recentemente o filme Aliens, pois não?
Beijo!
Cuidado, já temos um menino de oiro e também nasceu numa hora negra!
Inspirador de facto.
Daniel,
Obrigada...
beijos
Abobrinha
É mais ou menos isso ;)
Mas acho que ainda me falta muito para poder escrever argumentos de terror :)
beijos
Rafeiroso,
Heheh, não gosto lá muito do Alien, mas é possivel que tenha inspirado um pouco :)
beijos
Carol,
Coisas necessárias para se poder criar coisas desnecessárias (ou não, depende do ponto de vista)
beijos
António,
De quem é que falas?
beijos
El matador,
Gracias
beijos
Um bocado arrepiante não é ?
Tétricooooooooooooo mas muito bem conseguido o texto.
As aulas andam a fazer-te mal, ainda terminas em porta-voz do governo explicando como Portugal vai vencer a crise!
A sério gostei muito deste teu registo... olha que amanhã é sexta!
Acho que nem a mãe do Grendel o diria em tão belas palavras.
Soa bem mas deixa-nos intrigados.
Um menino escuro... embalado no peito... brrrr!!!
Um óptimo fim-de-semana.
Peço desculpa pela ausência mas uma intervenção cirúrgica fez-me andar meio... meio...
Um grande abraço
GOLDFINGER
Venho-te convidar para a minha catequese de fim-de-semana no 2711.
O que prova que sempre se pode escrever o que a nossa imaginação
congemina...
Bjs
Gaita! Eu que vinha aqui só dizer que amei a anedota da loura a olhar para o tecto e que podes deixar lá mais dessas e dou de frente com isto?! Apre que a tipa não está para brincadeiras! Vou sair de mansinho...
Gente,
è um bocadinho tetrico sim, mas a intenção é descrever um fenómeno interior...hehehe
beijos
What the heck?
You need some fresh oceanic breeze?
Assustador... E no entanto acho que dava um excelente texto para um filme dentro desse género... Parabéns! :P
Interessante incursão à psique!
O «ódio» é uma grande força, mas eu prefiro o «desejo». Ou a «vaidade». Também há o «sonho», mas o sonho é muitas vezes vago de mais, o «desejo» ou a «vaidade» são mais eficazes a curto prazo.
É nos instintos básicos e ferozes que vamos buscar o estímulo que nos torna capazes de nos superarmos. São eles que disparam as nossas hormonas, o nosso «dopping» interno. É neles que reside a nossa «garra», o nosso «rasgo».
Mas o que tu alimentas não é o «ódio», é a força inspiradora que sentes surgir em ti. O teu menino é feito dessa força, não do ódio - o «ódio» é apenas o teu «OM».
Obrigado por teres partilhado. E é um belíssimo texto!
gostei Joaninha. Esta fluente, tem ritmo, tem corpo. Esta excelente parabéns
Um beijinho da titia
Zica
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