terça-feira, 4 de setembro de 2007

Fim do Verão


As copas verdes pelo verão queimadas, são de súbito agitadas por uma aragem outonal.
Os passarinhos insuflam as penas, enrolam-se no ninho, procurando guardar o calor junto ao corpo pequenino.
Depressa as arvores se alinham, compondo as folhas direitas. Não foi nada, foi apenas um fio de cabelo de Outono no meio da cabeleira de Verão farta.
Muitos, longos dias quentes ainda se enrolam nos canudos grossos do estio. Os mergulhos da água fria dos miúdos, a língua rosa do cão.
Ainda não é desta não, que chegam as folhas acobreadas, o cheiro a castanhas assadas e a manta nos joelhos ao serão.

Fotografia by Allanah

8 comentários:

Anónimo disse...

Joaninha,
Depois de saber que um dos meus rapazes benguelenses de 22 anos, com quem convivi e que em vão tentei ajudar, morreu em Angola na prisão... nem imaginas a leveza que me deu ao deixar-me levar pela fragrância desta bela ilusão. Obrigado.
JPVale

Joaninha disse...

JP,

Obrigado eu....

Ana Cabral disse...

Sim, sim, para quem já anda na organização do ano, nos horários, idas e vindas de casa, saídas e longas noites de Inverno, reistência das miúdas à realidade que chama....sabe bem ouvir falar deste fim de estação!
Obrigado

Quanto a Angola....aaaahhh quantas histórias ouço contar! Força e coragem. Acha vida à frente dos olhos e esperança no coração.

Ana

Joaninha disse...

Engracado como uma coisita tão simples trás emoções diferentes a cada pessoa.

Abobrinha disse...

JP

Não podemos salvar o mundo, mas podemos tentar. Um de cada vez.

Mas aprendi (??) às minhas próprias custas que não se mudam as pessoas. Nem quando as diferenças culturais são mais pequenas ou mesmo quando os laços familiares são muito estreito.

O ponto de interrogação é porque, com toda a minha experiência, ainda não aprendi e continuo a dar com a cabeça na parede!

Mas o que eu digo é que quando eu perder a capacidade de me iludir... estarei muito mal!!

De qualquer modo, não te deprimas com isso: a vida é feita de vida e morte. A nossa sociedade é que tenta higienizar e dignificar nascimento e morte. Quando não há nada de digno em nenhuma delas. Mas é natural!

Anónimo disse...

Obrigado Joaninha. Obrigado Ana Cabral.

A vida é uma verdadeira caixinha de surpresas, bela por natureza e quando não o é só temos que fazer por isso... vamos à luta. Já o prof. Agostinho da Silva defendeu o mesmo, que só se deve desejar a alguém que se cumpra, e o cumprir-se inclui a desgraça e a sua superação.
Como é fácil falar...
JP

Anónimo disse...

Abobrinha, ontem a emoção e a irritação encontraram-se à flor da pele, decidi por isso encerrar o quartel para reorganização das tropas mas nada por causa duma hipotética depressão. Longe disso!
No mesmo SMS que comunicou o falecimento do Lupale, o meu menino igualmente me informou a morte de outro. E nada senti. Foi esta indiferença que me irritou, este encolher de ombros. O alheamento...
Emocionei-me por causa do Lupale, um menino jovem e muito inteligente, com um futuro promissor... quando o «libertámos» o trambolhão foi tão abrupto, que mal tivemos tempo de lhe aparar a queda. Ainda me lembro da primeira vez que o fui visitar à prisão (também a sua primeira), como não me queriam deixar entrar no estabelecimento prisional vesti a batina de Padre. Vesti-a ao contrário e devia ficar-me a dois palmos do chão, foi surrealista, era uma mistura entre padeiro e palhaço, foi tão giro! O certo é que os guardas deixaram-me entrar e ainda me bateram a pala.
Não quis ajudar-se, é a vida.
Estou bem, JPVale

Abobrinha disse...

JP

A indiferença (que não é) é um mecanismo de defesa.

O menino que morreu pode não ter sido "salvo", mas morreu com a noção de que alguém o amava e se preocupava com ele. É mais do que muita gente pode dizer, não achas? Não achas que isso é alguma coisa? Não valeu já a pena? Não podes fazer tudo, mesmo porque não depende tudo de ti, feliz ou infelizmente.

Infelizmente sei do que falo, mas demorei tempo a aperceber-me disto. Foi tempo de sofrimento desnecessário, por isso estou a tentar poupar-te tempo a ti!

Em família temos uma tradição informal estranha que é recordar coisas curiosas ou engraçadas de quando a pessoa era viva. Moral da história: por vezes no dia que antecede o funeral os vizinhos podem pensar que estamos contentes por a pessoa ter morrido porque frequentemente nos rimos a valer a recordar qualquer coisa. Por isto é que vale a pena viver! Essa história que contaste de te vestires de padre e outras... essas é que valem a pena.

Morrer qualquer um morre, mas é o que se faz em vida que interessa.

Fica bem.