terça-feira, 11 de setembro de 2012

Carta aberta ao amigo Pedro.


Caro Pedro,

Obrigada pelas tuas amáveis palavras de conforto nas redes sociais, após o anúncio de mais medidas de austeridade por parte do governo.
Compreendo que TU, como pai, como cidadão, tenhas muita pena das medidas que foram tomadas. Acho aliás legitimo, que como pai e como cidadão, tenhas tomado essas medidas, porque é teu dever, como pai e como cidadão defender o futuro dos TEUS filhos através das defesa dos TEUS interesses, é teu dever como cidadão defender os TEUS amigos e os seus interesses, principalmente quando são coincidentes com os teus. É obviamente através da defesa desses TEUS interesses que garantirás um futuro melhor para TI e para os TEUS.
E sejamos honestos, qual de nós como cidadão não faz exactamente o mesmo?
É essa a função de um pai, de um cidadão, de um amigo.
Por isto caro Pedro, compreendo-te bem.
No entanto caro Pedro, há algo que, na defesa acérrima que fazes legitimamente dos teus interesses, pareces esquecer. É que caro Pedro, tu és pai é certo, és filho é certo, és marido é certo e cidadão claro, mas és também o mais alto representante do governo de Portugal, tu és meu caríssimo Pedro, o Primeiro-Ministro de Portugal.
E é ai, Pedro, que a tua logica de pai e cidadão falha!
Falha, porque ser Primeiro-Ministro caro Pedro, implica que, em primeiro lugar, estão os interesses de todos os pais, todos os filhos, todos os maridos, todos os cidadãos e amigos dos cidadãos deste país! Em primeiro lugar está sempre, o interesse do colectivo caro Pedro.
A isto, a este misterioso fenómeno se chama, sentido de Estado e só com ele se pode ser dignamente Primeiro-Ministro.
Não Pedro, não é como pai, nem como cidadão que se está num lugar como esse. Um lugar como esse, implica sacrifício, sacrifício dos interesses pessoais, como pai, como cidadão, como filho, como amigo, em nome de algo muito maior, em nome de algo que deve ser considerado como sagrado, os interesses maiores de Portugal.
Meu caro, para se ocupar esse lugar é preciso muita coragem, muito sacrifício, muito caracter, muita humildade. Eu nunca tentaria sequer pois confesso, não seria digna de tal posto, não teria a coragem e a humildade que é necessária para renunciar aos meus interesses e dos meus entes queridos em nome de um colectivo que não conheço. Se também sentes não ter coragem, meu caro, não é vergonha nenhuma renunciar, aceitar que nem só de vitórias se faz uma carreira.
Assim, caro Pedro, deixo-te primeiro um pequeno conselho: Até os animais de carga se revoltam quando o castigo é muito. Tem cuidado.
Segundo, faço-te um apelo, não ao cidadão, não ao pai ou ao amigo, mas ao Exmo Senhor Primeiro Ministro de Portugal:
Em nome de um país que tem fome, de famílias que já não tem como viver, de PME’s que estão a fechar, de licenciados desempregados que estão a emigrar, em nome de todos os portugueses, ricos e pobres, de esquerda e de direita, toma as medidas que são necessárias tomar. Aquelas que provavelmente vão contra os teus interesses como cidadão e se calhar até como pai, mas que são do interesse maior de Portugal.
Aquelas que eu sei tens medo de tomar. Mas lembra-te, um verdadeiro Primeiro-Ministro não tem medo, afinal não tem nada a temer, pois tem o apoio do país, dos portugueses, de todo o Portugal.
No entanto Pedro, se sentes que não consegues, mantem a tua dignidade como cidadão, como pai, como amigo, demite-te!

Certa que me compreendes.

Um abraço fraterno,

JCC

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