segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Á minha amiga (Cont.)

Minha cara amiga,

Onde é que eu ia, desde a ultima nota, rasura de letra bem sei, que lhe deitei?
Desde aí já os meus humores se reviraram três vezes...É por isso que me custa tanto retomar seja o que for exactamente onde deixei, mas parece que isso não tem peso no cômpito geral da nossa partilha de pensamentos.

Sei também que, pese a sua solidez, a minha cara amiga se anda transmutando de sólido diamantado ser para ser de metal mercúrio, que embora metal, escorre sem que se lhe apanhe forma.
Deixe que lhe diga, que bem, que deliciosamente bem me sabe encontrar alguém que, como eu, se enforma e desenforma numa liquidez aflitiva e mórbida mas tão real e necessária como a necessidade premente que sentem as criaturas pelo ar que as sustenta.

O nosso entendimento implícito advém sem duvida desse nosso estado liquido, da liquidez oferecida aos pensamentos, à fluidez do pouco tempo em que nos é permitido assim o ser.

É um fado farto o nosso, não termos forma fixa, nem fixarmos forma no nosso pensamento, o correr constante, a necessidade de ir correndo, escorrendo, enchendo e preenchendo tudo, não nos permitindo endurecer, enraizar, embrutecer.

Enfim cara amiga, remato este apontamento dizendo que foi e é com gosto que a vou vendo assim, escorrendo brilhantemente pela minha vida.

5 comentários:

antonio ganhão disse...

Uma escrita que não se deixa enformar! Ouro líquido!

Krippmeister disse...

A tua amiga é um T-1000!

Blondewithaphd disse...

Confesso que já me andava a assustar com os sapatos encarnados! E sim, gosto tanto de ler cartas, assim... à antiga.

Anónimo disse...

Discorrido escorreitamente.


Votos de Bom Natal!
Beijos

Anónimo disse...

Força aí Joaninha!!!