terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Infância


Tive uma infância regalada, quase como aquelas dos livros para crianças. Com duas avós maravilhosas e dois avôs verdadeiramente inspiradores.
Nasci em Lisboa mas passei grande parte da infância numa aldeia do interior, uma aldeia de casinhas de granito e de socalcos de erva verde, onde as ovelhas pastavam serenas e as cabras com as suas prodigiosas tetas saltavam de fraga em fraga, comendo os rebentos de silvas e de alecrim enquanto os enormes cães pachorrentos dormiam sobre um manto húmido de folhas.

Desses dias só tenho boas recordações. Crescer no meio dos verdes e dos azuis será sempre a mais maravilhosa das minhas aventuras, embora me tenha deixado mal preparada nas artes da sobrevivência na cidade.
No entanto se puderem criem os vossos filhos assim, entres pastos e ovelhas, pássaros e águas frias. Com requeijão fresco ao pequeno almoço e queijo amanteigado. Com chá de ervas do jardim e manteiga batida pelas fortes mãos de um pai carinhoso. Com a presença de uma mãe forte e tenaz. Com 16 tios para garantir um suplemento de mimo que raia o ridículo e com todo o amor que tiverem á mão.
E digo-vos porquê!
Porque hoje quando olho para trás tenho vontade de chorar. Não de tristeza mas de felicidade, de profundo orgulho pela tão maravilhosa, completamente disfuncional, mas mais forte pilar que foi e é a minha família. Porque ter uma infância assim, ter uns pais assim é todo o ensinamento que é preciso quando a coisa azeda e temos medo. Nessas alturas olhamos para trás e vamos buscar ao cantinho recheado de coisas doces da nossa cabeça, as lições que nos foram ensinadas no meio de toda aquela felicidade.
Como a natureza nos ensinou a ser generosos e pacientes.
Como a Mãe nos ensinou a ser íntegros e justos.
Como o Pai nos ensinou a ser livres e sonhadores.

Não se preocupem muito com as cabras e bodes que se vão cruzar com eles depois, nem tão pouco com os sofrimentos e tormentas que terão de enfrentar e para as quais não estão preparados.
Porque eles pegarão nessas lições e tentarão segui-las, tentarão honrá-las e acreditem ou não o medo passará!
Aqui fica um bocadinho do paraíso onde cresci!

8 comentários:

Allanah disse...

Até me vieram as lágrimas aos olhos. Como diria a mana Ana: Somos verdadeiramente abençoadas!!! E ainda bem que a tua sobrinha Gabriela também vai poder disfrutar disso tudo!

Anónimo disse...

Se foi mesmo assim, fico muito feliz por isso! Bjs

Joaninha disse...

Foi mesmo assim mãezinha, graças a ti e ao Pai e ao suplemento de ter uma familia tãããõoo grande tnho reserva de mimo e bons valores humanos!!
Muito, muito obrigada!
BJS
JCC

Krippmeister disse...

Aqui na cidade também se cresce com as cabras e as suas tetas prodigiosas, são é bem menos bucólicas...

Uma infância feliz é absolutamente fundamental, ainda bem que tiveste a tua :-)

Anónimo disse...

buá..... és o máximo.... linda e maravilhosa; se não foi por isso que casei contigo foi porque te amo muito.

Acho que temos tudo para sermo pessoas felizes, temo-nos um ao outro e duas famílias fantásticas :D

beijinhos joaninha

Ana Cabral disse...

Não sei quem é a allanah...mas acertou em tudo...vieram-me as lágrimas aos olhos e senti que fomos mesmo abençoadas! Obrigado a todos o que permitiram usufruir de tanto.
Só faltou dizer que ainda o somos. E rezar para conseguirmos passar tudo isso, para que a próxima geração...mesmo que criada entre azuis e cinzentos, veja a beleza do mundo.
A tarefa não é fácil mas como diz no texto todos temos que participar...desde dos avós ao acrescento de mimo dos tios...a nós pais cabe a fatia de leão e ainda...a parte melhor....a produção!

beijinhos e obrigado por estes textos tão inspiradores para o dia
Ana

Anónimo disse...

Gostei imenso de ler este pedacinho . Crescer em ambientes de campo , longe da cidade deixa mesmo muito boas recordações,pois eu tive essa vida até aos 6 anos e acho que consigo recordar cada minuto com prazer:)Familia grande ...essa não havia , mas quem nos dá muito fica sempre como uma referência para toda a vida e disso tenho uma avó e um molhão de madres do colégio .Enfim somos umas sortudas!beijocas
annie hall do outsider

Anónimo disse...

Pois é Joaninha!! Imagina só criares, ou simplesmente passar umas belas férias com os teus filhotes (oh tia, vá lá!!)na fantástica casa de Paços! Belas recordações!! Que saudades...