terça-feira, 23 de outubro de 2007

Conto IV

O inspector e a Assassina.

(...)-Queria pedir-lhe que não desaparecesse durante mais um ano. Poderá ser necessário que preste depoimento outra vez.
-Inspector, não faço tenções de desaparecer para lado nenhum. Estarei sempre ao seu dispor.
Foi assim que se despediram. O inspector acompanhou-a à saída da esquadra.
Ficou a vê-la desaparecer. O dia estava húmido e frio e ela naquele vestido negro com aquela encharpe pesada parecia uma mentira muito mal contada. Com linhas curvas a tinta da china e cabelos em carvão grosso, revoltados com o vento e com a humidade.
Entrou num táxi e o bom inspector ficou a ver o carro desaparecer no meio da confusão do transito da cidade.
Para onde iria ela, para onde? Ter com quem?
Pegou na sua gabardina negra e no seu chapéu e arrancou dali para fora. Aquela esquadra não lhe trazia nada de bom.
Saiu carrancudo, com o seu cigarro no canto da boca e o seu ar perdido no espaço.
Sentia falta de dar uns gritos ao Rocha, sempre lhe aliviava a tensão antes de sair para passear. Mas ali como não tinha Rocha teria de sair assim, tenso.
O Rocha e a sua total falta de jeito para o trabalho policial. Coitado, não dava uma para a caixa, mas ao menos divertia-o.
Caminhou pelas ruas sujas de volta para o hotel, vendo em cada esquina o vestido negro e justo ondulando ao sabor do balanço das coxas firmes e das costas longas e arqueadas.
As pernas infinitas, os sapatos negros com lacinhos Channel.
No meio dela via os olhos verdes de gato da sua Laura, os seus cabelos loiros, o decote de Laura, o decote dela, tudo misturado, tudo unido.
Laura era maior, mais possante, como um potro. Ela era mais esguia, mais fina, como uma ave, como uma garça.
- Estou a ficar doido – Resmungou.
Nunca pensou que alguém se pudesse intrometer nas suas memorias de Laura. Mas afinal podia.
Entrou no hotel, pediu o jantar no quarto.
Estava a precisar de dormir um boa noite de sono. Era só isso.(Continua)

6 comentários:

Abobrinha disse...

Joaninha

Está um espectáculo! A mentira mal contada e o Rocha como saco de porrada são detalhes deliciosos. Keep up the good work!

Joaninha disse...

Abobrinha ainda bem que gostas, eu também gosto do coitado do Rocha, hehehe...

Anónimo disse...

só isto?Entretanto já não me lembra do que está para trás.
Episódios muito curtos e espaçados é o que dá!

Krippmeister disse...

Não são personagens superficiais. Vê-se que são pensados e trabalhados, mesmo que no final só tenham um pequeno protagonismo. A Joaninha dá-lhes uma veracidade e uma piada fascinantes.

Manda vir mais!

Allanah disse...

Ainda n me mandaste este!

Joaninha disse...

Vou levar para ai ok?