quinta-feira, 24 de setembro de 2009
O suspiro.
Agoniado arrasta-se por entre os lábios em insonora dor, carregando-lhe o medo cá para fora, soprando-lhe a solidão, em limpeza do seu silêncio abrindo-lhe espaço para o compasso de espera no seu terror finito.
Em expiação do seu pecado desconhecido vai-se-lhe expirando na ponta dos dedos gelados num murmúrio de alma só por ela ouvido.
Respira, faz todo o sentido! A Vida respira-se, diz-lhe o suspiro ao ouvido que vê a sua morte de encontro aos lábios já roxos, mortos de frio.
Ela inspira, inspira no momento em que o suspiro, sem forças, já expirado, se deixa acabar em agoniante falta de ar!
Vive!
terça-feira, 22 de setembro de 2009
terça-feira, 8 de setembro de 2009
O Condenado
Estendo a minha miséria sobre a mesa, chocalhando nos bolsos o pouco que sobra da venda da minha alma impura. Sou um homem condenado ao infinito inferno ardente e no entanto sou um condenado sorridente.
Valeu a pena viver assim?
Encaixo o queixo contra o punho serrado e recordo.
Os teus olhos!
Óh se valeu, valeu bem só por esse olhar, não me arrependo nem um pouco, loucura que foram, felicidade que me trouxeram, os teus toques e suspiros no escuro.
Agora pouco me resta, viverei de esmola pois os vazios de alma não se sustentam sozinhos, vivem parasitando a misericórdia dos puros.
A condenarmos a alma que seja por amor! Deus! a sermos pobre de espírito, vazios de conteúdo, buracos negros de existência que seja por amor, pois ele é por si a contrição do pecado que nos condena.
Passo o tostão furado por estes dedos esfolados, o pouco que me resta nos bolsos não vale um trocado e no entanto a fome não me apaga o sorriso de espanto que me trás a tua memoria, nem diminui o impacto que é ver-te em toda a tua glória.
Quem não quer ser condenado no calor dos teus lençóis pela profundidade dos teus suspiros?
Quem não se quer consumir na fornalha incandescente da tua boca, na infinitude das tuas gloriosas mãos?
Condeno-me pois! que me leve o diabo o pouco que ainda possuo e me deixe perecer aqui, dentro de ti coração.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Mais um excerto do conto
Fica aqui mais um bocadinho do meu conto. Espero que gostem
"E afinal o que queria o Bom do Conde com o nosso achado Barão?
O que se passava era o seguinte, passo agora a explicar.
O Conde de Malheiros era primo em primeiro por parte de sua mãe, do Barão e como supostamente o pai do agora novo Barão tinha morrido sem deixar descendência, compreendem o espanto de sua excelência, e sua urgência em lhe falar, afinal de contas o primo não morrera? E tivera mesmo um filho? Coisa estranha! que destino.
Miguel Moreno não estava seguro mas caminhava altivo pelo corredor do palácio obscuro. Pensava nas palavras do velho.... tinha laivos de génio, ou então mentia-lhe, não lhe saia da cabeça a facilidade com que Zé se mexia no meio daquela gente, tinha de saber a verdade era importante.
Mas naquele momento não, não podia perder o pé, ali não era Miguel Moreno e o Velho não era o Zé.
O Conde esperava sentado num majestoso sofá de couro encapado quando o nosso Barão de lata chegou. Com um ar cerimonioso olhou-o nos olhos e o cumprimentou-o. Miguel tremia sobre as bases, mas dava-se a ares e olhares importantes como se sempre tivesse vivido no meio daqueles gigantes.
Na sala enorme encarnada brilhava a lareira fulgente em frente da qual o conde se sentava.
-Meu caro Conde que grande prazer – Cumprimentou Miguel com as pernas a tremer.
-Meu caro Barão, se for mesmo o filho do meu Primo, mas será ou não?"