sexta-feira, 17 de julho de 2009

Mais um excerto.

Mais um bocadinho do conto, espero que gostem. Nas férias vou trabalhar nele.

"Entretanto o patrão, o comprido e esguio Dr. Pavão, esperava a mulher junto à entrada, havia festa em casa dos Malheiros, com direito a fraque e a vestido de gala.
Também Gabriela estava convidada, teria de ir, toda enfeitada, mas a o seu coração estava de luto, como poderia sorrir se o que queria mesmo era fugir de tudo, fugir por nada.
O pai não era um homem paciente, disso a princesinha estava ciente, por isso apesar do desgosto, vestiu o belo traje e pintou o rosto. Desceu a escada de cara amarrada, ninguém lhe arrancaria um sorriso, menina danada.
O pai desfiou um elogio qualquer, que ela não quis sequer ouvir e deu o braço à mulher, preparando-se para sair.
A mulher do Dr. Pavão era esculpida em perfeita pedra branca, toda ela reluzia, a beleza era tanta que cegava quem a via. Invejada pelos pares do Dr. de cauda grande, provocava invejas nas mais pobres de beleza, que a acusavam de ser falsa, com certeza.
Não era falsa, era verdade, Deus fizera tamanha maldade e esculpira tamanha graça que se passeava no meio da praça de entrada, na casa dos Malheiros com o seu caudaloso companheiro, que de peito inchado pavoneava o seu achado.
Atrás deles vinha Gabriela de vestido leve como ela.
A bela senhora não era sua mãe, e de pouco lhe servia, mas isso não a ralava também, a sua mãe fugira há muito de todo aquele mundo poluto onde o pai gostava de se pavonear. Aquele mundo falso com vista para o mar.
Gabriela gostaria de fugir também, gostaria de fugir e procurar a sua mãe. Mas o pai não a deixava, dizia que a mãe a tinha abandonado, mas ela sabia bem quem ela abandonou.
Não lhe guardava magoa nem rancor, sabia que mãe lhe tinha amor.
Bonita a princesinha perfeita com movimentos cantantes e cabelo em trança, entrou pelo palácio dos Malheiros, sem esboçar um sorrir, olhando todas aquelas pessoas ocas, cheia de vontade de fugir.
Atrás deles outro carro longo, esticado, preparava a entrada pelos portões de cadeado mas teve de esperar um bom bocado, entre os guardas e o arame farpado.
O porteiro perguntou solicitando o convite ao senhor cavalheiro que de dentro do carro de trás lhe sorria.
Mas o chouffer de barba cinza respondeu - o Barão não necessita de convite digo-lhe eu.
O porteiro ficou desconfiado não gostou do tom autoritário.
-Aqui sem convite não se entra, são as ordens de sua excelência.
-Pois diga-lhe então, que está aqui o Barão.
-O Barão de onde?
-Ora o Barão primo do Conde!
-De que Conde?
-Do Conde de Malheiros – Bufou o chouffer, grunhindo entre dentes – É pior que uma mulher.
-Mil perdões senhor Barão, siga em frente pela vedação."

10 comentários:

Daniel Santos disse...

Gostei deste pequeno avanço... para quando algo por inteiro?

Joaninha disse...

Ó Daniel que rapidez.

Não dá para por aqui por inteiro porque está no inicio e já tem 25 paginas...hehehe, quando estiver completo eu coloco num sitio onde vai dar para ler tudo seguido e mando o link ok?

beijos

Blondewithaphd disse...

Hmm... prosa com laivos de aliteração e rima intercalada. Isto dá qualquer coisa mais lírica. Já experimentaste fazer mais poesia?

antonio ganhão disse...

Uma prosa em jeito de rima...

Perla disse...

Gostei muito!
A rima dá-lhe um ar de graça :)

Então e o título?

Bjinhos

Krippmeister disse...

Tem um ritmo fantástico. Dá muito gosto ler.

Já agora parabéns também pelas vitórias académicas ;)

Chuac!

Ninja! disse...

Definitivamente, gosto imenso de ler estas passagens. :D

Rafeiro Perfumado disse...

Presumo então que a esposa do Dr. Pavão era fria que nem uma pedra...

Beijoca!

Joaninha disse...

Perla, podes começar a dar ideias porque nunca lhe dei titulo.

beijos

Loirinha, poesia e prosa eu gosto das duas coisas, misturadas ou separadas, aqui apeteceu-me misturar...Mas eu escrevo muita poesia, como sabes.

beijos

Anónimo disse...

Em primeiro lugar, parabéns por mais um texto fabuloso. Por favor diz-me que vais compilar tudo (neste momento escrevo este comentário e dizes aqui de lado que já vais nas 25 páginas) e enviar para uma editora. Fico sempre fascinada pelo que escreves e tenho a certeza que não sou a única.

Em segundo lugar, muito obrigada pelo beijinho deixado no blogue do sr. Ninja. Acabei de ver o comentário e vim aqui retribuir.

Embora, para já, a Salto-Alto esteja ausente, eu vou sempre espreitando os blogues que mais gosto e podes crer que o teu é um dos mais especiais, daqueles que me marcaram porque simpatizei muito com a autora. Embora não comente venho sempre cá espreitar a ver se tens algo novo. Nunca falho.

E pronto, era isto. :)

Um beijinho muito grande!


Salto-Alto