Já escrevi sobre a minha mãe, umas poucas de vezes. Não tão poucas como
isso, e ainda assim, não tantas como ela merece.
Não é só por ser bonita que falo nela. É linda, é certo. Sempre o foi,
continua sendo e será eternamente. Não é novidade e confirma-se facilmente. Não
é por isso, mas por tudo o resto.
É por ser mãe com todas as fibras do seu ser, mesmo contra toda a fibra do
seu intelecto, uma negação positiva de maternidade que é o mais acertado
contra-senso.
Pela sua capacidade de abnegação materna, num constante abraçar escondido,
preocupação continua, camuflada atrás de um ar sempre um pouco “blasé”.
Sempre com as feridas escondidas, com o sofrimento refundido, com o medo
trancado na gaveta. Enfrentando, enfrentando-se...
Podia aqui filosofar durante horas, dias, anos, sobre todas as razões pelas
quais é ela assunto de que nunca me farto, e sobre o qual nunca digo o
suficiente. As razões pelas quais me encho de orgulho e de sentimentos que eu
própria não abarco quando a penso mais seriamente. Mas não o faço, por
respeito.
Basta dizer que, dificilmente outra criatura faria de forma mais
dissimulada e no entanto mais perfeita, o seu papel de mãe extremosa, amorosa,
uma coragem de mãe coragem!
Mãe...
Muito obrigada e desculpa-me todas as vezes que não correspondi, todos os
sustos que te dei, todas as guerras que provoquei, todas as asneiras...Contrita
de forma profunda, humildemente te peço mãe... perdão. Quanto aos que farei no
futuro, aqueles que, demorarei anos a reconhecer, sim porque demoro sempre
muito, peço-te também que me perdoes desde já. Adivinhando a tua resposta
negativa, saio na mesma sorrindo, sabendo ter o perdão no bolso, mesmo se não o
tivesse pedido.
Não digo que seja a melhor mãe do mundo, mas digo que, seja lá quem for
essa, a minha não fica a dever nada!
Mãe.