A estrada para o inferno está fechada, impedida e gelada sob um enorme manto branco, parada.
Há silêncio. Ao longe ainda se ouve o lamento do diabo, não sei se em velado pranto ou em risinho engasgado, seja o que for que faz, é com enorme respeito pois o som mal se ouve, entranhando-se assim uma sensação de paz no aparente vazio.
Coloco o pé na porta do caminho e de imediato me cobre o nada e me sinto sozinho, ouço a voz ao Diabo, chamando-me:
- Anda cá meu rapazinho.
Não tenho medo de chifrudos, afinfo o outro pé na estrada e faço todo meu o caminho. Num repente de um raio me apercebo que o silêncio respeitoso do Diabo não é de graça, e que algo estranho se mexe ao fundo na praça.
Não se ouve um único som, até o diabo finalmente se calou.
Olho para ela, gela-me o seu sorriso, pergunto-lhe onde estou, e ela sussurra-me...
- Perdido...Olhando por detrás dos olhos de vidro.
- Quem és tu alma penada – Pergunto eu. Pois que se chifrudos não me atemorizam já o mesmo não digo de olhos azuis vazios, abandonados de alma.
Ela faz prolongado silêncio, como se ela própria pensasse quem era naquele momento,. Repentinamente abre a boca, até lhe sinto o bafo gelado, e fazendo rodar a língua vejo eu sair pelos meus lábios.
- Sou eu...
Novamente ouço sussurrar o mafarrico, escondido estrategicamente atrás da estátua que enfeita solenemente o centro da praça.
Arrepia-se-me a nuca! A criatura falou pela minha boca...
Deve ser tal o meu ar de espanto que ela me abre um sorriso gelado e branco, fica-me fitando, com ar de antecipação, esperando com divertimento uma qualquer reacção.
Quanto mais ela olha mais cresce em mim um pensamento desconcertante, se ela fala pela minha boca, então pensa pelo meu pensamento e pode saber o que penso a qualquer momento.
- Quem és tu - insisto aterrorizado!
- Sou o teu medo – responde-me de través – sou aquilo que temes - diz-me estendendo-me a mão - aquilo que na realidade és.