Ás vezes não me aturo, às vezes não me aguento, tem dias que não me consigo olhar no espelho.
Deus! A mim nada? nada?...Eu que tantas vezes, seja por dor ou desespero, tanto de ti solicito sempre esperando tão pouco.
Não seria eu, que de ti já nada espero, aquela que de ti tanto esperou durante tanto tempo?
E espero, espero, com os olhos no sereno bater de asa do povo desatento, no arrastar de chinelo da mulher do merceeiro, no cheiro intenso dos morangos amadurecendo, apodrecendo, na caixa de madeira frente à curva da estrada, estranha torta onde o homem com o palito na boca se recorta.
Rio para dentro, ninguém sabe, sabes Tu e eu e o vento, que me rio de Ti, Contigo e dos outros, com eles e outras vezes muito a sós comigo mesmo.
E depois, depois dos meus risos torturas-me cruelmente, sem prazeres penso, sei lá talvez até em descontentamento, mas torturas-me da pior maneira e no pior tempo.
Não me aturo, não me suporto, neste desgastado, aborrecido evento que é a vida lenta, lenta, morrendo como um peixe com uma única guelra dentro de agua estagnada.
Ai de mim Deus meu! Ai de mim que me afogo, eu que de ti pedi tão pouco, afinal quero apenas...quero tudo, quero a todos!