quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Tormenta.

O silêncio instala-se matreiro, sem se saber como. Pára tudo, não bule folha, não se ouve um ruído. A pele irisa-se, arrepanha-se, o corpo entesa, os dentes serram. Cheira-se-lhe no ar o odor intruso.

O ar contrai-se. O espaço encolhe-se. O tempo que é sempre mais lento, suspende-se...
Inspira-se uma ultima vez, última inspiração da alma antes do vazio, e enfrenta-se.

Já sem tempo, já com silêncio, já sem certezas, no mar lamacento, peganhoso. Luta-se. Garras, unhas. Esgravata-se, agarra-se, sobrevive-se.

Longa, longe nos leva a torrente. Caos de dor, de escravidão. Sangue derramado de cada um. Um por si e por si só. Numa solidão de companhias bravas, raras, lutando por si, com os outros, sem lutar por eles mas ainda assim lutando por todos.
E então...Vede como se limpam as águas. A água sempre se limpa, o monstro sempre se amansa...

Pingos de água, resquícios da tormenta, fazem som nos telhados destruídos. O silêncio quebra-se.

O espaço cresce, o ar expande-se e a alma novamente respira, inspira, expira serena.