quarta-feira, 28 de julho de 2010

Alice II

- Eu sou Alice!

Ele olhou-a indignado e disse:

- Alice era loira! – Riu-se!


- Alice! sou Alice!

Ele olhou, pesaroso respondeu:

-Alice morreu!


- Não! Alice sou eu!

Ele, com sua voz já meia sumida:

- Que afirmação mais descabida!


-Não entendes? Alice sou eu!

Ele não deu resposta, desapareceu..


Então ela chorou desolada,

Porque raio o gato a matara?

Porque ter cabelo cor de azeviche?


- Alice sou eu! Eu sou Alice.

E depois desfaleceu...


Boas férias para todos!


sexta-feira, 23 de julho de 2010

A Paixão by El-Matador...

Amanhecera finalmente o dia em Remulak – A Grande. Não era um dia qualquer; era o dia que iria definir a vida de toda uma geração. Um risco invisível havia sido traçado na Cidade e, ou se estava de um lado ou do outro; não havia meio termo. A época das indecisões acabara. A inércia há muito que vinha fazendo os seus estragos, e, aquela que um dia tinha sido uma das mais belas repúblicas do cosmos, jazia quase morta, de tão apática se tornara. Os tecnocratas haviam corrompido o poder. Governavam com a ajuda de andróides que fiscalizavam e faziam cumprir as suas leis. As leis eram de betão armado ou tinham a forma de microchips de silica. Os remulakianos eram cordeiros marcados para abate; peças de carne para sacrifício; tudo em nome da Grande Máquina. Eram absorvidos, mastigados e reciclados em humanóides sem espírito; que fiscalizavam e faziam cumprir...
Pasquináceo agarrou na sua bandeira rubra e negra e dirigiu-se para o centro da Cidade. De todas as ruas, de todas as vielas e becos foram surgindo outros pasquináceos; remulakianos, que de tanto serem ofendidos e humilhados, caminhavam obstinados para o local marcado, puxados por uma força invisível que os unia a todos: a miséria.
O centro da Cidade cedo se tornou numa massa informe, qual coágulo de sangue a espraiar os seus tons de vermelho escuro. O burburinho daquela gente depressa se transformou num clamor que de tão estrondoso foi confundido com trovoada; na agitação alguém comentou: - Porra! Até que enfim que acordámos – e nesse momento o Palácio foi tomado de assalto, e os andróides que o defendiam nada puderam contra uma multidão ávida de mudança, sequiosa de justiça; reconheceram-se nela e abriram alas.
O senhor Engenheiro(ideólogo da Grande Máquina) e seus sequazes foram arrastados das faustosas poltronas dos seus gabinetes para a rua, puxados pela orelha, como se faz aos meninos mal comportados. E logo ali foram julgados por toda a população que exclamou a uma voz: Condemno!
O castigo foi aplicado de imediato a todos os meliantes e seus acólitos; a todos os juízes que os justificaram, a todos banqueiros que os sustentaram, a todos os sacerdotes que os benzeram. Foram atirados ao rio de pernas e braços atados. Não foi uma condenação à morte; os remulakianos sabiam que a merda geralmente boiava.
E era tal a paixão que vibrava naquele povo que até o céu começou a chorar de emoção. A chuva varreu das ruas os restos de ingnomínia, e sublinhou a necessidade de limpeza que a Cidade há muito exigia.

Este texto foi escrito por El Matador http://el-killer.blogspot.com/