terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Um meio

Há para ai um Post algures no blog que se chama "um inicio" este será o meio, quem sabe um dia não lhe escrevo um fim :)

Enquanto saboreava o presente sentada na balaustrada uma vozinha de cristal transparente, vinda da garganta de um homem pequenino bem diferente sussurra-lhe de mansinho.
-Porque olhas tu assim para o teu futuro, quieta, parada, enrolada na manta quente ? Vamos mexe-te, corre atrás dele, segue em frente.
Ela responde sem grande entusiasmo.
-Parece-me longe, parece-me pesada a caminhada, parece-me duro. Prefiro ficar aqui sentada. Para alem disso parece-me demasiado vago, e um pouco prematuro esse tal de futuro...prefiro a minha manta quente, a minha eterna balaustrada.
-Ora não digas isso - responde o pequeno homem diferente, com voz transparente. – O futuro é bem mais leve que o passado – diz-lhe em tom afinado.
O futuro é bem mais brilhante – insiste com um tom de voz confiante.
Faz o cheiro do mar rebolar-lhe em frente do nariz, agita-lhe as ondas do mar em jeito de chamariz, mas ela permanece sentada, entre os sons do seu passado e as nebulosas imagens do seu futuro, enrolada na manta quente do seu presente, sentada na balaustrada da sua vida, sem olhar para trás nem seguir para a frente.
-Não me mintas, não convences.
-Não te minto, segue em frente.
-Se para trás é o passado e para a frente é o futuro, quando for em direcção ao futuro em que se torna então o meu presente?
-Torna-se o teu passado.
-Então quanto mais vivo o futuro mais me pesa o meu passado. E quando se me acabar todo o futuro? Imagina o tamanho do peso do meu passado? Todo esse passado que foi futuro um dia, pesa mais do que qualquer passado que tenha agora. O futuro pesa bem mais que o passado, não me enganas, meu desgraçado.
- Como é diferente a mente desta gente...sentenciou o homenzinho diferente – E seguiu, foi embora, com o cheiro a maresia, o perfume a rosa.
De pé na balaustrada deixou cair a manta quente, e sem qualquer protecção, sem armamento, deu um passo a frente, saiu daquele momento.
O homenzinho diferente, de voz transparente e afinada, tinha razão, o futuro pesa menos que o passado, e o passado pesa menos que um eterno presente.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Toca a Votar




Ó vá lá....Votem lá...Please...por favor...votam? sim?

Aqui inscrevem-se : www.board-design.com/signup/

Aqui votam nas pranchas :
Preta
Branca

Não vale votar nas outras, mesmo que por breves instantes insanos vos possam parecer melhores que estas ;)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O escritor II

Cansado da vida, já no fim do livro, o escritor escreve, sobre a mesa do seu leito, as suas ultimas palavras, as que nunca pensou escrever.
“ Há muito tempo que ando para te dizer, mas não pôde ser. Há tempo que se me engasgam as palavras, que me sufocam os sons, mortos ainda no pensamento. Há muito tempo que te queria ter dito, mas sou covarde, sou um pobre de espírito a quem Deus não dará o reino dos céus.
Há muito tempo que esperava a oportunidade para te falar, mas passavas por mim com um sorriso que me calava.
Agora que fiquei sem tempo, agora neste ultimo segundo antes do fecho eterno dos meus olhos, não te vás, não sorrias para que o teu sorriso não me mande calar, deixa-me dizer-te. Senta-te na beira da minha cama branca e limpa para que te diga com a pouca voz que ainda tenho, no desespero deste ultimo momento.”
- Amei-te durante todo este tempo. Murmura.
Caem-lhe as folhas das mãos, caem-lhe as pálpebras sobre os olhos, cai-lhe a escuridão na mente...
Fim

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O fim do ciclo (ultimo capitulo)

Sentada na poltrona da sala ela tinha os olhos ainda presos no vazio.
Não é meu costume fazer visitas ao domicilio, mas ela é especial, por ela abro esse tipo de excepções.
Ela não estava lá, teria de a ir buscar.
Coloquei a cadeira de madeira mesmo à sua frente, teria de olhar para mim, para que pudesse ir busca-la aonde ela estivesse.
Mas os olhos continuavam presos no vazio. Pobre alma, completamente perdida, completamente só e desesperada.
Os pais olhavam-me curiosos.
Segurei-lhe a mão levemente.
-Vamos, volta.
Necessitava apenas de uma pequena centelha de conhecimento para poder trabalhar, porque assim no vazio, completamente no escuro não conseguiria fazer nada.
As folhas das arvores faziam um frufru, como os saiotes das velhas senhoras de outro tempo e ela parecia balançar ao som dessa musiquinha natural. Para a frente e para trás, suavemente.
Segurei-lhe a outra mão e comecei a abanar-me com ela, entrei devagar no seu ritmo, com a esperança de entrar devagar na sua alma, sem a assustar.
A noite foi caindo morna, enquanto dançávamos frente a frente.
Acariciando-lhe as mãos frias, mantendo o contacto humano, queria traze-la de volta mas para isso teria de lhe mostrar que o tempo não tinha parado, que ela não tinha vivido milhares de futuros, antes tinha milhares de futuros para viver. Para a trazer de volta ela teria de querer voltar.
-Eu sei que estás bem aí, mas volta.
Continuei dançando.
Foram horas de dança, até os seus olhos encontrarem os meus, primeiro vazios, depois tentando ver.
A mão apertou suavemente a minha.
-Aqui está a minha menina.
Não era nada encorajador o estado de saúde geral, fraca, um pouco desidratada, completamente fechada num mar imenso e profundo de dor.
Ela era assim, o tamanho e profundidade dos seus sentimentos era exacerbado, não aprenderia nunca a controlar esse monstro que a comia por dentro.
Aquele segundo de contacto deu-me esperança. Estava perdida mas queria voltar.
Não tinha prazer nenhum em voltar a interna-la na ala psiquiátrica, mas seria necessário faze-lo.
Com calma, encaminhei aquele espectro até à ambulância. A mãe chorava, o Pai rangia os dentes numa luta interna monumental para controlar o choro, a angustia.
Pobres, pobres criaturas indefesas perante a monstruosidade da doença da filha.
Às vezes basta um toque, um sussurro, um farpa tão pequena que toca como uma pluma e eles desaparecem no meio de uma tempestade violenta.
Deitada na maca os olhos dela voltaram a desaparecer na bruma.
O hospital frio, sem graça sem vida, com doentes cambaleantes e mentes insanas há muito sem regresso.
Passava os seus dias fitando as copas das arvores, dançando ao som do frufru das folhas, todos os dias eu dançava com ela, ela não me olhava nos olhos, mas dava-me um centelha de esperança quando me apertava levemente a mão.

E cá está, o esboço do inicio do ultimo capitulo do meu "livro".

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Uma visita de aniversário


Uma visita numa data oportuna, vespera dos meus anos, uma joaninha veio visitar a Joaninha e tomou um cafézinho ;)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Tempo

O tempo tem os pés pequeninos, passa sem fazer nenhum barulho, passa ao de leve, de mansinho.
O tempo tem pés pequeninos, delicados, nem os sentimos mas ficam marcados, no rosto, no corpo, no espaço.
O tempo tem pés de menino, menino pequeno que parece que não pesa, mas que se vai tornando pesado, à medida que o tempo vai passando, com os seus pequenos pés de lã de cordeiro, vai deixando atrás de si pegadas pequenas na pele, como impressões na neve, do tempo que já passou sem dar por isso.
O tempo tem pés pequeninos, mas corre rápido como o vento, destrói como gigante grotesco, destrói sonhos e momentos, destrói casas, países, gentes, terras, mentes.
O tempo tem pés pequeninos como os de um menino, mas cura quase tudo, murmurando no ouvido doente palavras de futuro em frente, promessas de melhores alturas, melhores dias, mais contentes, porque o tempo em si é uma promessa que amanhã vai ser diferente, que ainda há tempo, mesmo que ele passe correndo com os pezinhos pequenos cobertos de lã branca de cordeiro que não se sente.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Um Ponto (ensaio)

Um ponto, sem marca, sem linha, sem género, sem conto. Um ponto, simples, sem gente, sem história, sem nó. Um ponto que sentia a falta que me fazias, a alegria que me trazias enquanto tínhamos outros, tantos, muitos pontos pela frente.
Um ponto, sem rima, sem virgula, sem texto. Um ponto só, um ponto intenso, que era o ponto exacto do meu pensamento e era único naquele ponto do tempo.
Um ponto que foi de esperanças, alegre, cheio de lembranças, é agora um ponto de fiascos, de tempos difíceis, de enormes fracassos, vazio de abraços.
È nesse ponto exacto, exactamente nesse ponto que deixo cair o fardo, fica tudo ali, fica o ponto marcado. Naquele ponto, naquele marco, naquele local, deixei ficar o meu ponto final. O final marcado no ponto que tinha de ficar, ficou só, mas ficou no seu lugar. Ficou o desaire de alma, como um ponto manchado, enxovalhado, mal tratado. Eu segui desse ponto para a frente, segui em busca de outros pontos, de outras gentes. O ponto marcado ficou no seu lugar de ponto abandonado, de ponto só, marca, sinal, presença, passou a passado, a ponto distante, a mancha indefinida, a ponto apagado.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Trovante - Noite de Verão

Provavelmente a melhor banda portuguesa do seculo passado.
A Allanah fez falou neles e eu continuo. As letras eram magistrais as musicas também, os musicos eram muito bons e o cantor era brilhante. Depois estragou-se ;)

A dois

- Sua mulher mesquinha.
Seu animal cruel, cínica!
Porque me arranhas o peito?
Porque me mordes a boca?
Mas me deixas só no leito?

-Seu homem indecente, tarado!
Todas as noites choro ao teu lado.

- Seu homem mimado, pequeno,
Menino mau, ser do inferno!
Porque me devoras quando me olhas?
Com esses olhos quentes, de tom ameno
A tua boca é mais fria que o inverno!

- Mulher mentirosa, O meu beijo?
A minha boca arde de desejo!

-Arranca-me a roupa e morde-me os lábios
Arranha-me o corpo. Fere-me a alma.
Não me tortures mais com indiferença
Não me olhes como se eu fosse doença!
Meu homem, meu destino, meu amor.


-Não me afastes mais, para longe.
Não me deixes, não me largues
Não sei viver sem o teu ar!
Não sei viver sem o teu ser,
Não me digas que não sabes!
Minha razão, minha mulher, meu viver

-Não te largo, não te deixo, nunca, não!

-Minha loucura, minha paz, meu pão.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008